Pensei nisso ao entrevistar Tânia Caetano e Marli dos Santos, ambas internadas em Suzano para emagrecer antes da cirurgia bariátrica no Hospital das Clínicas.
A história de ambas é impressionante e nos mostra o quanto estamos distantes de entender e tratar com eficiência as compulsões. Não estou convencida de que a cirurgia bariátrica, por si só, seja capaz de "curar" boa parte dos obesos mórbidos que se submetem a ela.
Karime Xavier/Folhapress | ||
Tânia Brito Caetano, 29, e Marli Matos dos Santos, 53, internadas no Hospital de Retaguarda de Suzano |
Para ele, do ponto de vista fisiológico e químico, o prazer extremo pela comida pode, sim, virar dependência.
"Nós gostamos de pensar em "metabolismos" para explicar por que ganhamos peso. Na verdade, 90% das pessoas que estão severamente obesas o são porque comem demais, não porque têm desordens metabólicas. Isso acontece porque seus cérebros são diferentes."
As pessoas comem porque sentem prazer, e o prazer está associado à liberação de dopamina no cérebro. Esse neurotransmissor dispara quando ingerimos uma comida deliciosa, por exemplo. A dopamina integra o sistema de prazer e recompensa.
Assim como os demais vícios, as pessoas começam porque se sentem bem. Nas que têm predisposição para o vício, segundo Linden, vão precisando de mais e mais. Todo o desejo se transforma em necessidade. A dependência gera mudanças estruturais, químicas e elétricas dos neurônios.
A literatura médica mostra que hoje de 30 a 40% dos obesos têm distúrbios relacionados à compulsão alimentar. Na bíblia da psiquiatria, esse tipo de compulsão é definido por comer num intervalo curto de tempo uma quantidade de alimento muito maior do que outra pessoa poderia comer no mesmo período de tempo, e acompanhada por uma perda do controle do que e do quanto está comendo naquele momento.
Em geral, essa perda de controle vem acompanhada de tristeza ou de ansiedade. Os obesos com compulsão alimentar, quando comparados com obesos sem compulsão alimentar, consomem uma quantidade de calorias muito maior. Neles, a recidiva e o reganho de peso (mesmo depois da cirurgia bariátrica) são mais frequentes do que nos que obesos não compulsivos.
David Linden aposta que, em um futuro distante, teremos meios de ativar nossos mecanismos de prazer de forma não invasiva, talvez algo como um capacete de beisebol que, colocado na cabeça, ativará seus circuitos cerebrais do prazer na intensidade que você desejar.
Enquanto esse futuro incerto não chega, só nos resta torcer para que Tânia, Marli e tantos outros que enfrentam as mais diversas dependências consigam segurar a onda com os meios que dispomos (terapias, medicamentos e cirurgias). Só por hoje.
FONTE:FOLHA.COM
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