O presidente eleito do PSOL, Luiz Araújo, diz que a candidatura do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) à Presidência da República em 2014 será competitiva. “Nós apresentamos uma candidatura que tenta conquistar esse eleitorado que deseja mudança, a partir do pressuposto que as três principais candidaturas são mais do mesmo.”
O presidente eleito do PSOL, Luiz Araújo
Araújo foi eleito presidente do partido no 4º Congresso Nacional do PSOL, realizado no último final de semana. Ele foi deputado estadual no Pará, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) no primeiro mandato do ex-presidente Lula e secretário municipal de Educação em Belém quando Edmilson Rodrigues (ex-PT, atualmente no PSOL) era prefeito da cidade. Hoje, Araújo trabalha como assessor parlamentar no gabinete de Randolfe. Ele irá substituir o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) na presidência da legenda, e comandará o partido no processo eleitoral do próximo ano.
Em entrevista à CartaCapital, Araújo comenta as chances do PSOL em diversos estados e a visão da legenda sobre as manifestações de junho em todo o país. Leia abaixo:
CartaCapital: Qual a expectativa de votação de Randolfe na próxima eleição? Ele pode ser um candidato competitivo? Ou sua candidatura serviria somente para ajudar o partido no Legislativo?
Luiz Araújo: É competitivo, porque existe um espaço bastante grande para uma candidatura à esquerda. Há uma contradição mal resolvida: as pesquisas mostram uma alta definição de votos. Mas 60 por cento do eleitorado diz querer mudanças. Nós apresentamos uma candidatura que tenta conquistar esse eleitorado que deseja mudança, a partir do pressuposto de que as três principais candidaturas são mais do mesmo. Após as jornadas de junho, há uma insatisfação que abre espaço para uma candidatura nova.
CC: Randolfe disse que vai buscar aliança de partidos como PCB e PSTU. Outros partidos estão descartados?
LA: O leque de alianças deve ser prioritariamente com PCB e PSTU. Se depender da gente, nós vamos fazer todo o esforço para recompor a frente de esquerda. Mas não vai haver negociações com outros partidos, evidentemente, porque nossa candidatura chega para romper uma polarização que já existe. Não estamos muito preocupados em negociar com partidos. As manifestações de junho mostraram que é necessário ampliar a aliança para movimentos sociais insatisfeitos com o governo, e podem vir a ser conquistados por um programa elaborado com eles.
Temos capacidade de dialogar com esses segmentos que seriam tradicionalmente eleitores de partidos de esquerda em torno da Dilma. Por exemplo, existe uma mobilização contra os gastos da Copa do Mundo. Nós fomos o único partido que votou contra a lei geral da Copa.
CC: Mas o próprio PSOL sofreu hostilidade nas ruas durante os protestos, a exemplo de outros partidos. Como o PSOL pode dialogar com essas pessoas que repudiam os partidos?
LA: É um problema que terá de ser enfrentado em dois caminhos. O primeiro é programático: precisamos apresentar um programa que dialogue com as reivindicações das ruas e apresente uma alternativa ao que eles estavam rejeitando, ou seja, à forma como a política tem acontecido no Brasil. Nós vamos disputar esse sentimento de mudança presente no eleitorado, que é um sentimento confuso em termos programáticos, mas é muito direcionado a uma presença maior do estado nas prestações de serviço.
O outro lado é um desafio sobre como a gente reinventa um partido de esquerda, para que ele não sofra como os partidos sofreram nas manifestações. Alguma coisa os partidos de esquerda não fizeram certo, , isso fez essa juventude que foi para as ruas não conseguir distingui-los.
CC: O que os partidos de esquerda fizeram de errado para que fossem hostilizados?
LA: O que mais me preocupou não foi nem tanto a reação aos partidos, mas as reações às entidades e movimentos sociais ligados aos partidos. Houve uma reação contra a UNE, as centrais sindicais e os diretórios acadêmicos. Ela não aconteceu porque as pessoas não reconhecessem a sua importância, a reação ocorreu porque enxergavam neles um braço dos partidos. E essa partidarização das entidades, que passam a representar apenas um segmento daquele conjunto de pessoas daquela área, de um curso, duma fábrica, o que seja, significa que a nossa prática não está conseguindo manter nossas entidades representativas de todos. Isso deveria fazer toda a esquerda repensar a forma como se relaciona com os estudantes, qual o papel que essas entidades têm, e qual é o papel da politização necessária nelas. Mas também deve tentar uma separação com a vida partidária, que às vezes se confunde com a dessas entidades.
CC: Mas as pessoas querem ser representadas por essas entidades? O problema não é a própria ideia de representação nelas?
LA: Vamos precisar criar formas alternativas de consulta direta à população. Nós somos um partido que defende a radicalização dos processos de consultas plebiscitárias. Um caminho seria fazer, nos próximos anos, formas diretas de consultas sobre as grandes decisões nacionais, fazer consultas mais rápidas sobre temas estratégicos. Fazer isso na vida partidária, no governo e nas entidades.
Hoje você elege um diretório e depois as decisões são tomadas por 30, 40 estudantes que aparecem nas assembleias. Isso vale também para os sindicatos. As pessoas se cansaram de ir porque não viam um espaço muito democrático, mas não foram criadas formas mais democráticas para que as pessoas fossem ouvidas. É um nó que precisamos desatar. Você precisa ter formas mais rápidas de decisão no partido.
CC: O PSOL é um partido formado por diversas tendências, e suas divergências internas ficam mais aparentes que nos outros partidos. A votação da escolha de Randolfe, por exemplo, aconteceu de forma apertada. Essas divergências prejudicam as ações do partido?
O PSOL é um partido em construção. É normal que você tenha, digamos assim, uma federação de grupos existindo e falando publicamente. Mas quanto mais o partido se fortalece, e se fortalece programaticamente, mais isso vai se consolidando como uma cara própria de partido. A nossa gestão vai trabalhar muito para que se supere essa visão e seja um partido com mais musculatura interna, mas vamos continuar tendo as diferenças internas, que são importantes.
CC: O senhor falou em “eleger uma forte bancada de deputados federais nos principais estados onde o partido tem uma forte inserção”. Que estados seriam esses?
LA: O PSOL é um partido que tem níveis de penetração diferentes no país. Nós temos um potencial de crescer a bancada no Rio de Janeiro e em São Paulo. E, tendo uma candidatura majoritária competitiva, isso ajuda muito, como ajudou na época da Heloisa Helena [candidata à presidência em 2006].
Temos chance no Pará, com o Edmilson Rodrigues. Ele foi o segundo colocado na eleição para prefeito, foi o deputado estadual mais votado, e vai puxar nossa chapa de deputados federais. Com a candidatura do Randolfe e com o governo em Macapá, nós temos uma chance maior de eleger gente lá. E temos uma chance de eleger alguém no Ceará, já que não elegemos na última vez por causa do coeficiente. E, a depender da configuração, talvez possamos ter chance em Brasília. Infelizmente a Luciana Genro não pode sair no Rio Grande do Sul. Porque nós teríamos chance de fazer uma boa chapa para elegê-la lá. [Luciana é filha de Tarso Genro, governador do Estado, e por isso não pode concorrer]
E tudo vai depender de como a candidatura do Randolfe crescer. Pode acontecer o fenômeno que aconteceu com o crescimento da candidatura do Marcelo Freixo [segundo colocado à prefeitura do Rio em 2012], quando conseguimos eleger uma boa bancada de vereadores.
CC: O programa do PSOL defende a anulação da dívida pública com os bancos e o financiamento público de campanha. Na última eleição, porém, candidatos competitivos como Edmilson Rodrigues acabaram defendendo o pagamento da dívida e recebendo majoritariamente doações de empresas. O partido deve receber doações da iniciativa privada na próxima eleição?
LA: O próprio Randolfe já declarou que não aceitará doação daqueles que mandam hoje no governo: banqueiros, empreiteiras, agronegócio, que são proibidas explicitamente pelo estatuto do partido.
Mas há uma polêmica interna, se o partido deve manter um procedimento igual em todos os locais, se aceita doação de pessoa jurídica ou não. No momento, a gente não tem uma posição sobre isso.
A priori, os grandes empresários, em especial as empreiteiras, não serão aceitas na campanha. Obviamente nem estarão no leque daqueles que vão nos ajudar, não é muito difícil cumprir essa resolução. A polêmica é se um pequeno ou médio empresário quiser doar. Vamos amadurecer e estabelecer limites.
FONTE: CARTA CAPITAL
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