O Rio Grande do Norte vive uma crise financeira sem precedentes. Além das dívidas, ainda sofre, segundo o governo, com a frustração de recursos. Contudo, pelo menos para a campanha política, a gestão Rosalba Ciarlini, do DEM, não sofreu. Pelo menos, não segundo a revista Istoé (na edição desta semana). Isso porque, segundo a publicação, a Polícia Federal investiga uma denúncia de que o senador José Agripino teria utilizado sua influência para fazer o Executivo Estadual favorecer a Empresa Industrial Técnica (EIT) com contratos milionários.
O “tráfico de influência” praticado pelo presidente nacional do partido no único governo do DEM no País é mais um item para uma série de suspeitas de irregularidades eleitorais que teriam a governadora Rosalba Ciarlini como personagem. Além desta, a própria revista trás o “desengavetamento” de uma investigação sobre Caixa 2 na campanha eleitoral de 2006. Isso, sem contar com a recente condenação de Rosalba por usar a máquina pública estadual para favorecer a candidatura da prefeita de Mossoró, Cláudia Regina, também do DEM.
Contudo, no caso de José Agripino, por que ele usaria sua influência para fazer Rosalba pagar quantias milionárias a EIT? Porque José Agripino foi sócio cotista da EIT até agosto de 2008. E mais: nas eleições de 2010, o senador recebeu R$ 550 mil de doação da empreiteira. “Empresa privada, a EIT é o terceiro maior destino de recursos do Estado nas mãos de Rosalba. Perde apenas para a folha de pagamento e para crédito consignado. Só este ano foram R$ 153,7 milhões em empenhos do governo, das secretarias de Infraestrutura, Estradas e Rodagem e Meio Ambiente”, aponta a revista.
A Istoé ressalta ainda que nem na crise financeira, que fez o governo atrasar pagamento a fornecedores e, até mesmo, aos servidores estaduais (que passaram a receber de forma escalonada) que atingiu o salário dos servidores e os gastos com a Saúde, a EIT deixou de receber. O governo afirmou que não tinha dinheiro para essas despesas básicas, mas gastou milhões nas obras do Contorno de Mossoró, empreendimento tocado pela EIT.
Caixa 2 da governadora também é investigado
A doação de campanhas eleitorais de forma, possivelmente, irregular, não é a única situação Isso porque o Ministério Público Federal desarquivou investigação iniciada no RN para apurar um possível “Caixa 2″ ocorrido na campanha de Rosalba em 2006, quando ela conseguiu se eleger senadora (e, a partir daí, reuniu condições e apoios para ser governadora).
A informação está em matéria publicada pela revista Istoé e cita a cúpula do DEM como envolvida no esquema. “Todo o modus operandi das transações financeiras à margem da prestação de contas eleitorais foi registrado em escutas telefônicas feitas durante a campanha de 2006, às quais ISTOÉ teve acesso. A partir do monitoramento das conversas de Francisco Galbi Saldanha, contador da legenda, figurões da política nacional como o presidente do DEM, senador José Agripino, e Rosalba foram flagrados”, apontou a revista.
É importante ressaltar que esse esquema já havia sido tratado n’O Jornal de Hoje neste ano, contudo, na época, a defesa da governadora alegou que aquele era um caso já “arquivado” pelo MPF, mesmo com todas as provas e áudios gravados mostrando diversos diálogos que parecem denotar o Caixa 2.
“A voz inconfundível de José Agripino surge inconteste em uma das conversas interceptadas. Ele pergunta ao interlocutor se a parcela de R$ 20 mil – em um total de R$ 60 mil prometidos a determinado aliado – foi repassada. A sequência das ligações revela que não era uma transação convencional. Segundo a investigação do MP, contas pessoais de assessores da campanha eram utilizadas para receber e transferir depósitos não declarados de doadores. Uma das escutas mostra que até mesmo Galbi reclamava de ser usado para as transações. Ele se queixa: ‘Fizeram uma coisa que eu até não concordei, depositaram na minha conta’”, apontou a revista.
Assim como retratado aqui no JH na época, Galbi Saldanha continua sendo homem de confiança do partido no Estado, ocupando cargo de secretário-adjunto da Casa Civil do governo, ou seja, está ao lado do marido de Rosalba, Carlos Augusto Rosado, secretário-chefe e que aparece diversas vezes no vídeo articulando “esquemas”.
Em 2006, o contador foi colocado sob grampo pela Polícia Civil, pois era suspeito de um crime de homicídio. O faz-tudo nunca foi processado pela morte de ninguém, mas uma série de interlocutores gravados a partir de seu telefone detalharam o esquema de caixa 2 de campanha informando número de contas bancárias de pessoas físicas e relatando formas de emitir notas frias para justificar gastos eleitorais.
Nas gravações que envolvem Rosalba, Carlos Augusto liga para Galbi e informa que usará de outra pessoa para receber doação para a mulher, então candidata ao Senado. “Esse dinheiro é apenas para passar na conta dele. Quando entrar, aí a gente vê como é que sai para voltar para Rosalba”, diz.
Segundo a Istoé, o advogado da governadora, Felipe Cortez, evita entrar na discussão sobre o conteúdo das escutas e não questiona a culpa de sua cliente. Ele questiona a legalidade dos grampos. “Os grampos por si só não provam nada. O Caixa 2 não existiu. As conversas tratavam de assuntos financeiros, não necessariamente de Caixa 2″, disse o advogado de Rosalba a reportagem da Istoé.
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