domingo, 8 de dezembro de 2013

Dilma quer chegar de trator à reeleição

O roteiro não varia muito: em menos
de dez segundos, o prefeito se
aproxima, cumprimenta Dilma
Rousseff, recebe uma chave e posa
para uma foto ao lado da presidente
da República. Alguns puxam uma
rápida conversa com a chefe do
Executivo. E então o mestre de
cerimônias chama o próximo da fila.
A cena já se repetiu centenas de
vezes desde que o governo federal
começou a montar palanques para
distribuir máquinas às pequenas
cidades nos grotões do pais. São
retroescavadeiras, motoniveladoras,
pás-carregadeiras e outros
equipamentos do tipo que, entregues
a pequenos municípios, têm o
potencial de criar uma dívida de
gratidão dos prefeitos com a
presidente, candidata à reeleição no
ano que vem.
Os dois lados saem ganhando: para o
chefe do Executivo municipal, a
chegada de um equipamento novo
é útil para melhorar as condições das
rodoviais vicinais e conquistar o apoio
de seus conterrâneos. Para a
presidente, é uma garantia de
proximidade com os líderes políticos
de pequenas cidades, onde a
influência do prefeito é significativa.
Nas cerimônias de entrega dos
equipamentos, Dilma deixa claro que
está fazendo uma espécie de favor
aos prefeitos: "Essas estradas são
verdadeiras veias de alimentação do
organismo econômico. Por isso o
governo federal resolveu fazer essas
doações", disse ela, em outubro, em
um ato no qual distribuiu máquinas de
pavimentação a municípios do
Paraná.
A ideia de criar uma rubrica dentro do
Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) para a compra
dessas máquinas foi anunciada por
Dilma em 2012, durante a tradicional
Marcha dos Prefeitos, mas as
primeiras máquinas começaram a ser
entregues apenas neste ano. Até o
ano que vem, o governo deve gastar 5
bilhões de reais para distribuí-las às
prefeituras. Até agora, foram
entregues 8 949 equipamentos. Em
2014, o governo pretende ter
contemplado 91% dos municípios
brasileiros – mais de 5 000 cidades.
"Os prefeitos e os vereadores são,
tradicionalmente, os grandes cabos
eleitorais da política brasileira", diz a
cientista político e professor da
Universidade de Brasília Paulo
Kramer.
As rodadas de distribuição de
máquinas são uma ferramenta de
Dilma para tentar disfarçar a falta de
grandes realizações no interior do
país. É verdade que o cenário nas
pesquisas é favorável para Dilma –
41% de aprovação à gestão, segundo
o instituto Datafolha. Mas, segundo
aliados do governo, os números não
são tranquilizadores: a avaliação é
que Dilma, ao contrário do seu
antecessor e padrinho político, o ex-
presidente Lula, não detém carisma
suficiente e enfrentará dificuldade na
Região Nordeste se a candidatura
presidencial da dupla Eduardo
Campos (PSB) e Marina Silva decolar.
Crítica - O senador de oposição
Alvaro Dias (PSDB-PR) afirma que a
entrega das máquinas não é invenção
do atual governo. Mas, antes, nunca
foi divulgada com tanta pirotecnia
porque não se trata de um projeto
dos mais grandiosos. "Eu, como
governador, nunca ia pessoalmente
entregar essas máquinas. Era um
convênio que se fazia do estado com
o Banco do Brasil e se entregava isso
lá no município. O diretor do banco e
o secretário de agricultura é quem
iam. A presidente mostra que o
governo não tem feito nada de
espetacular para inaugurar", diz o
tucano.
Os prefeitos dos pequenos
municípios, que dispõem de pouca
autonomia financeira e normalmente
não poderiam pagar 600 000 reais por
uma motoniveladora, agradecem –
embora digam que o apoio eleitoral a
Dilma não pode ser vinculado aos
benefícios. "A gente fica grato ao
governo federal, mas não tem
compromisso nenhum", diz o tucano
Edson Sima, prefeito de Taquarivaí
(SP) – 5 000 habitantes e PIB de 82
500 reais –, que vai receber uma
motoniveladora em 19 de dezembro.
Ele diz não se incomodar com a
possibilidade de tirar uma fotografia
ao lado da presidente da República.
"Fomos eleitos para trabalhar,
independentemente de partido."
Na mesma cerimônia do dia 19 estará
Araldo Todesco (PSB) – 8 000
habitantes e PIB de 67 800 reais –,
que comanda a prefeitura de Tapiraí
(SP). Ele também vai buscar uma
motoniveladora para sua cidade. E diz
que o benefício tem potencial para
melhorar seu apoio popular: "Esse
tipo de coisa sempre altera o
panorama", afirma ele. Dividido entre
o apoio à reeleição de Dilma e à
possível candidatura de Eduardo
Campos, o prefeito diz que vai
esperar 2014 para tomar uma decisão
mais clara.
O fato de o governo montar uma
cerimônia a cada vez que vai entregar
as máquinas às vezes atrapalha mais
do que ajuda: além de onerar o
governo federal com os altos custos
da viagem da comitiva e da
organização dos atos, o método
obriga os prefeitos a providenciar o
transporte das máquinas por centenas
de quilômetros até suas cidades.
Sima e Todesco, por exemplo,
precisarão buscar suas
motoniveladoras na pequena Campina
do Monte Alegre (SP).
Fonte:veja online. 

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