da Tribuna do Norte
Yuno Silva
Repórter
Segundo livro do Antigo Testamento da Bíblia, e também do Torá judeu, importante para três das maiores tradições religiosas do planeta: judaísmo, cristianismo e islamismo, o episódio conhecido por Êxodo chega sugestivamente às telas de cinema nesta quinta-feira (25) pelas mãos do diretor Ridley Scott. A história relata como o profeta Moisés, vivido na tela pelo ator Christian Bale (de “Batman: O Cavaleiro das Trevas”), atravessou o Mar Vermelho e conduziu os hebreus/israelitas do Egito pelo deserto até o Monte Sinai há mais de 3,5 mil anos. O filme entra em cartaz em Natal, inclusive em versão 3D, nas três redes exibidoras.
Produção de proporções grandiosas, compatível com o império construído pelo faraó Ramsés II (Joel Edgerton), antagonista de Moisés, que reinou de 1279 a 1213 a.C., “Êxodo – Deuses e Reis” começa com uma recriação do que o diretor diz ter sido a maior batalha de exércitos de bigas de todos os tempos, entre egípcios e hititas. Para a narrativa de “Êxodo”, é o início do confronto entre os dois personagens centrais da história: os quase irmãos Ramsés e Moisés, este apresentado por Scott ora como um líder revolucionário e ora como um homem em conflito com o aspecto místico da religiosidade – espelho do Deus vingativo, violento e autoritário do Antigo Testamento.
Diretor de filmes como “Alien, O Oitavo Passageiro”, “Blade Runner – O Caçador Andróides”, “Thelma e Louise”, “Gladiador” e “Prometheus”, Ridley Scott precisou reconstruir duas cidades egípcias (Pi-Ramses e Mênfis), dois palácios, pirâmides e um busto gigante do faraó para rodar seu longa-metragem na região da Andaluzia (sul da Espanha). Já a partição do Mar Vermelho, um dos momentos mais aguardados do filme, foi filmado nas Ilhas Canárias também naquele país europeu.
Para o crítico de cinema Luiz Carlos Merten, do Estadão, Ridley Scott “lixa-se para a (grande) história” ao criar um filme para o público de 2014. Para ele o começo de “Êxodo” prenuncia um desastre que felizmente não se converte: “Ridley Scott tomou a iconografia de Serra Pelada, por Sebastião Salgado, como modelo para o canteiro de obras das pirâmides, e tudo me pareceu como uma maquete. Também não sei quem teve a ideia de propor que John Turturro fosse o velho faraó Seti. É um desastre de proporções épicas, como também foi loucura o fato do diretor recorrer a sua amiga Sigourney Weaver para ser a mulher do faraó, a mãe de Ramsés. Sigourney nem fala, e seu seu figurino é de baile de Carnaval. Quando as coisas parecem perdidas, o filme começa a melhorar”.
Deus menino
Merten destaca a decisão acertada de Scott ao escalar um menino para dar forma ao Deus que convoca Moisés para libertar seu povo escravizado no Egito. “Em raros momentos, Deus tem a inocência da criança. É duro, autoritário e cruel. Quando sopra no ouvido de Moisés o que vai fazer como última praga – a morte dos primogênitos -, Moisés recua, apavorado, mas o Deus-menino mantém-se inabalável. Muito interessante”, aponta o crítico, que destaca a ausência de conflito “talvez pela questão religiosa. O conflito não é entre Moisés e Ramsés, mas entre o faraó, que se proclama deus, e o Deus dos hebreus. Não há conflito porque Deus, mesmo menino, tudo pode. O que disfarça é o show de efeitos na (re)criação das pragas bíblicas. Ficamos sentados vendo até onde Deus – e os técnicos de Hollywood – podem chegar”.
O “Êxodo” de Scott, na opinião de Luiz Carlos Merten, “talvez tenha mais defeitos que qualidades, mas é intrigante, fascinante. Não sei como os grupos religiosos vão reagir, ou se já estão reagindo. Mas aquele Deus-menino, e caprichoso, que prega a guerra por seu povo, é um personagem e tanto para se refletir sobre o mundo em que vivemos”.
Polêmica
Ridley Scott também está cotado para levar a história do rei David às telonas, mais um capítulo do chamado ‘cinema religioso’, que voltou à moda em Hollywood após o sucesso de “Noé” e a surpreendente boa recepção a filmes como “O filho de Deus”, “Deus não está morto” e “O céu é de verdade”, todos lançados em 2014.
“Êxodo” recebeu duras críticas por conta da quantidade de artistas brancos no elenco. Polêmica reforçada pela declaração do magnata Rupert Murdoch, presidente da Fox Filmes: “Desde quando os egípcios não são brancos? Todos os que eu conheço são”. Scott também comentado a polêmica, afirmando que seria impossível conseguir financiamento com protagonistas chamados “Mohammad disso-ou-daquilo”. Vale ressaltar que um relatório sobre a indústria de cinema, publicado este ano, mostrou que apenas 11% dos longas hollywoodianos escalam atores negros como protagonistas, e que eles costumam compôr apenas 10% do elenco da maioria dos filmes.
Serviço
Estreia de “Êxodo: Deuses e Reis”, do diretor Ridley Scott, com Christian Bale (Moisés), Joel Edgerton (Ramsés), John Turturro (Seti, pai de Ramsés), Aaron Paul (Josué) e Sigourney Weaver (Tuya, mãe de Ramsés). Em cartaz, inclusive em 3D, dublado e legendado, em salas das redes Moviecom, Cinemark e Cinépolis.
Yuno Silva
Repórter
Segundo livro do Antigo Testamento da Bíblia, e também do Torá judeu, importante para três das maiores tradições religiosas do planeta: judaísmo, cristianismo e islamismo, o episódio conhecido por Êxodo chega sugestivamente às telas de cinema nesta quinta-feira (25) pelas mãos do diretor Ridley Scott. A história relata como o profeta Moisés, vivido na tela pelo ator Christian Bale (de “Batman: O Cavaleiro das Trevas”), atravessou o Mar Vermelho e conduziu os hebreus/israelitas do Egito pelo deserto até o Monte Sinai há mais de 3,5 mil anos. O filme entra em cartaz em Natal, inclusive em versão 3D, nas três redes exibidoras.
DivulgaçãoVolta as telas a história que relata como o profeta Moisés atravessou o Mar Vermelho e conduziu os hebreus/israelitas do Egito pelo deserto até o Monte Sinai, há mais de 3,5 mil anos
Produção de proporções grandiosas, compatível com o império construído pelo faraó Ramsés II (Joel Edgerton), antagonista de Moisés, que reinou de 1279 a 1213 a.C., “Êxodo – Deuses e Reis” começa com uma recriação do que o diretor diz ter sido a maior batalha de exércitos de bigas de todos os tempos, entre egípcios e hititas. Para a narrativa de “Êxodo”, é o início do confronto entre os dois personagens centrais da história: os quase irmãos Ramsés e Moisés, este apresentado por Scott ora como um líder revolucionário e ora como um homem em conflito com o aspecto místico da religiosidade – espelho do Deus vingativo, violento e autoritário do Antigo Testamento.
Diretor de filmes como “Alien, O Oitavo Passageiro”, “Blade Runner – O Caçador Andróides”, “Thelma e Louise”, “Gladiador” e “Prometheus”, Ridley Scott precisou reconstruir duas cidades egípcias (Pi-Ramses e Mênfis), dois palácios, pirâmides e um busto gigante do faraó para rodar seu longa-metragem na região da Andaluzia (sul da Espanha). Já a partição do Mar Vermelho, um dos momentos mais aguardados do filme, foi filmado nas Ilhas Canárias também naquele país europeu.
Para o crítico de cinema Luiz Carlos Merten, do Estadão, Ridley Scott “lixa-se para a (grande) história” ao criar um filme para o público de 2014. Para ele o começo de “Êxodo” prenuncia um desastre que felizmente não se converte: “Ridley Scott tomou a iconografia de Serra Pelada, por Sebastião Salgado, como modelo para o canteiro de obras das pirâmides, e tudo me pareceu como uma maquete. Também não sei quem teve a ideia de propor que John Turturro fosse o velho faraó Seti. É um desastre de proporções épicas, como também foi loucura o fato do diretor recorrer a sua amiga Sigourney Weaver para ser a mulher do faraó, a mãe de Ramsés. Sigourney nem fala, e seu seu figurino é de baile de Carnaval. Quando as coisas parecem perdidas, o filme começa a melhorar”.
Deus menino
Merten destaca a decisão acertada de Scott ao escalar um menino para dar forma ao Deus que convoca Moisés para libertar seu povo escravizado no Egito. “Em raros momentos, Deus tem a inocência da criança. É duro, autoritário e cruel. Quando sopra no ouvido de Moisés o que vai fazer como última praga – a morte dos primogênitos -, Moisés recua, apavorado, mas o Deus-menino mantém-se inabalável. Muito interessante”, aponta o crítico, que destaca a ausência de conflito “talvez pela questão religiosa. O conflito não é entre Moisés e Ramsés, mas entre o faraó, que se proclama deus, e o Deus dos hebreus. Não há conflito porque Deus, mesmo menino, tudo pode. O que disfarça é o show de efeitos na (re)criação das pragas bíblicas. Ficamos sentados vendo até onde Deus – e os técnicos de Hollywood – podem chegar”.
O “Êxodo” de Scott, na opinião de Luiz Carlos Merten, “talvez tenha mais defeitos que qualidades, mas é intrigante, fascinante. Não sei como os grupos religiosos vão reagir, ou se já estão reagindo. Mas aquele Deus-menino, e caprichoso, que prega a guerra por seu povo, é um personagem e tanto para se refletir sobre o mundo em que vivemos”.
Polêmica
Ridley Scott também está cotado para levar a história do rei David às telonas, mais um capítulo do chamado ‘cinema religioso’, que voltou à moda em Hollywood após o sucesso de “Noé” e a surpreendente boa recepção a filmes como “O filho de Deus”, “Deus não está morto” e “O céu é de verdade”, todos lançados em 2014.
“Êxodo” recebeu duras críticas por conta da quantidade de artistas brancos no elenco. Polêmica reforçada pela declaração do magnata Rupert Murdoch, presidente da Fox Filmes: “Desde quando os egípcios não são brancos? Todos os que eu conheço são”. Scott também comentado a polêmica, afirmando que seria impossível conseguir financiamento com protagonistas chamados “Mohammad disso-ou-daquilo”. Vale ressaltar que um relatório sobre a indústria de cinema, publicado este ano, mostrou que apenas 11% dos longas hollywoodianos escalam atores negros como protagonistas, e que eles costumam compôr apenas 10% do elenco da maioria dos filmes.
Serviço
Estreia de “Êxodo: Deuses e Reis”, do diretor Ridley Scott, com Christian Bale (Moisés), Joel Edgerton (Ramsés), John Turturro (Seti, pai de Ramsés), Aaron Paul (Josué) e Sigourney Weaver (Tuya, mãe de Ramsés). Em cartaz, inclusive em 3D, dublado e legendado, em salas das redes Moviecom, Cinemark e Cinépolis.
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