Seguranças do metrô entram em confronto com manifestantes na estação Paraíso após protesto na região central de SP
do Folha.com
O lançamento da primeira edição brasileira de um livro escrito nos anos 1970 levou quase 800 pessoas ao Centro Cultural São Paulo em plena terça-feira (26 de novembro) à tarde. Ok, era uma maioria de rapazes de calças jeans e garotas de saia e sandália das ciências sociais de faculdades variadas. Centenas de olhinhos brilhando na palestra do geógrafo inglês David Harvey sobre seu livro da década de 1980 "Os Limites do Capital" (Boitempo, R$ 79, 592 págs.) e seu primeiro contato com o pensamento do teórico fundador do comunismo, Karl Marx.
A sãopaulo conversou com o autor sobre urbanismo, tema forte de Harvey, um dos mais destacados pensadores marxistas da atualidade. Leia trechos da entrevista abaixo.
sãopaulo - O que significa quase um quarto da cidade fazer de grandes operações de reforma urbana [como o Arco Tietê, proposto na gestão Haddad]?
É difícil fazer qualquer comentário detalhado sobre planos locais. O que eu posso dizer é que, na atual situação do capitalismo, o capital tem muita dificuldade em encontrar onde investir seus excedentes, e com frequência se volta para a reurbanização. Como ocorreu após a 2ª Guerra Mundial, quando os subúrbios nos Estados Unidos foram criados. E isso visto como uma oportunidade de remodelar a cidade. Normalmente haverá uma série de objetivos humanitários. Vão dizer que a área é empobrecida, insalubre, ambientalmente ruim, degradada, tem problemas de drogas, etc. como desculpa para retirar as pessoas de sua terra. Esses processos sempre envolvem remoções. Às vezes violentas, porque há resistência. Às vezes é um processo lento onde aluguéis em ascensão fazem as pessoas se mudarem.
É difícil fazer qualquer comentário detalhado sobre planos locais. O que eu posso dizer é que, na atual situação do capitalismo, o capital tem muita dificuldade em encontrar onde investir seus excedentes, e com frequência se volta para a reurbanização. Como ocorreu após a 2ª Guerra Mundial, quando os subúrbios nos Estados Unidos foram criados. E isso visto como uma oportunidade de remodelar a cidade. Normalmente haverá uma série de objetivos humanitários. Vão dizer que a área é empobrecida, insalubre, ambientalmente ruim, degradada, tem problemas de drogas, etc. como desculpa para retirar as pessoas de sua terra. Esses processos sempre envolvem remoções. Às vezes violentas, porque há resistência. Às vezes é um processo lento onde aluguéis em ascensão fazem as pessoas se mudarem.
Você vê a questão da mobilidade como uma justificativa para aumentar o número de construções nas áreas consolidadas da cidade?
Não estou familiarizado com os detalhes de São Paulo, mas há sempre um tendência do investimento fluir de modo que as regiões ricas ficam mais ricas e as regiões pobres ficam mais pobres. É a lógica do investimento é que ele flui para onde as oportunidades lucrativas são maiores. Há crescimento de um lado e colapso do outro. Uma abordagem reformista não muito radical de intervenção seria redirecionar fundos para desenvolver as outras partes da cidade. Mas todo mundo diz que não se deve fazer isso. Se a prefeitura ler o relatório do Banco Mundial sobre geografia e urbanização, vai pensar: bem, o Banco Mundial diz que a melhor coisa a fazer sobre a desigualdade espacial é nada, porque o mercado vai cuidar disso. É loucura.
Não estou familiarizado com os detalhes de São Paulo, mas há sempre um tendência do investimento fluir de modo que as regiões ricas ficam mais ricas e as regiões pobres ficam mais pobres. É a lógica do investimento é que ele flui para onde as oportunidades lucrativas são maiores. Há crescimento de um lado e colapso do outro. Uma abordagem reformista não muito radical de intervenção seria redirecionar fundos para desenvolver as outras partes da cidade. Mas todo mundo diz que não se deve fazer isso. Se a prefeitura ler o relatório do Banco Mundial sobre geografia e urbanização, vai pensar: bem, o Banco Mundial diz que a melhor coisa a fazer sobre a desigualdade espacial é nada, porque o mercado vai cuidar disso. É loucura.
Em uma cidade com uma prefeitura endividada, sem capacidade para investimento, onde o setor da construção financia campanhas políticas e corrompe servidores, como é possível "domar" o mercado imobiliário?
Há uma porção de soluções reformistas radicais, como nacionalizar a terra. Mas há outras maneiras. Os investimentos públicos criam benefícios privados. Há maneiras de criar impostos para recuperar esses benefícios de volta para o setor público. Então desaparece o incentivo em corromper servidores para construir algum tipo de infraestrutura em determinado lugar para elevar o valor da terra, porque a valorização vai ser taxada. Isso ocorreu por um tempo na Inglaterra, e na França em meados do século 19.
Há uma porção de soluções reformistas radicais, como nacionalizar a terra. Mas há outras maneiras. Os investimentos públicos criam benefícios privados. Há maneiras de criar impostos para recuperar esses benefícios de volta para o setor público. Então desaparece o incentivo em corromper servidores para construir algum tipo de infraestrutura em determinado lugar para elevar o valor da terra, porque a valorização vai ser taxada. Isso ocorreu por um tempo na Inglaterra, e na França em meados do século 19.
Os protestos iniciados em junho em São Paulo continuam acontecendo. Agora são menores, com presença de "black blocs", que costumam destruir coisas. Esses movimentos ainda estão em busca do direito à cidade?
Quem está destruindo as coisas? Eles estão destruindo mais do que já está sendo destruído? Esse é um ponto importante. Ok, existem os "black blocs", pessoas que estão preparadas para usar violência. A polícia na verdade gosta da violência do outro lado porque ela legitima seu uso de violência. Então ocorre um ciclo. Historicamente nós sabemos que muitos desses grupos "black blocs" estão infiltrados por agentes policiais que às vezes agem de forma provocativa. Aconteceu em Genebra, na conferência antiglobalização. E há tipos de "black blocs". Há os muito jovens que estão lá para jogar tijolos em vidraças e não têm agenda política. Mas há "black blocs" mais velhos que têm sim uma agenda. Usam a violência de forma estratégica para fazer com que a violência do Estado seja vista.
Quem está destruindo as coisas? Eles estão destruindo mais do que já está sendo destruído? Esse é um ponto importante. Ok, existem os "black blocs", pessoas que estão preparadas para usar violência. A polícia na verdade gosta da violência do outro lado porque ela legitima seu uso de violência. Então ocorre um ciclo. Historicamente nós sabemos que muitos desses grupos "black blocs" estão infiltrados por agentes policiais que às vezes agem de forma provocativa. Aconteceu em Genebra, na conferência antiglobalização. E há tipos de "black blocs". Há os muito jovens que estão lá para jogar tijolos em vidraças e não têm agenda política. Mas há "black blocs" mais velhos que têm sim uma agenda. Usam a violência de forma estratégica para fazer com que a violência do Estado seja vista.
Ana Yumi Kajiki | ||
O marxista britânico David Harvey ataca os 'oligarcas globais' e diz que bilionários foram os que mais ganharam com a crise |
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