Em 2011, jornada em Madri foi dominada por tensão e manifestações contra os gastos com evento católico em meio à crise espanhola
A sensação é de filme repetido. Com a aproximação da abertura da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) no Rio de Janeiro, marcada para terça-feira(23), cresce o temor de que a edição brasileira do evento reproduza o mesmo cenário de protestos e convulsões sociais encontrados na Espanha, em Madri, em 2011.Em resposta à visita do então papa Bento 16, e impulsionadas pela forte crise econômica que dominava a Europa, dezenas de manifestações foram organizadas para o período da jornada de Madri, realizada entre 16 e 21 de agosto daquele ano.
Pouco antes da chegada da comitiva do Vaticano a Madri, por exemplo, uma passeata reuniu 4.000 pessoas que protestaram contra o financiamento público do evento, e a favor de um Estado laico, em que há separação total entre religião e governo.
No protesto, foram registrados momentos de tensão entre jovens católicos e os manifestantes. Sete pessoas foram presas, e outras 11 ficaram feridas. O Metrô de Madri parou em greve no fim de semana, também contra os gastos do evento.
Pouco antes da chegada da comitiva do Vaticano a Madri, por exemplo, uma passeata reuniu 4.000 pessoas que protestaram contra o financiamento público do evento, e a favor de um Estado laico, em que há separação total entre religião e governo.
No protesto, foram registrados momentos de tensão entre jovens católicos e os manifestantes. Sete pessoas foram presas, e outras 11 ficaram feridas. O Metrô de Madri parou em greve no fim de semana, também contra os gastos do evento.
A revolta de agosto ainda era um eco de um movimento iniciado em 15 de maio de 2011, o 15-M ou “revolução espanhola”, que foi aumentando e angariando simpatizantes que se autointitulavam “Indignados”. Convocados pelas redes sociais, os “Indignados” repudiavam, por exemplo, a corrupção endêmica da Espanha e a falta de vagas para os jovens egressos de um sistema de ensino satisfatório, mas que lançava à sociedade profissionais em busca de oportunidades inexistentes.
Com o lema “Dos meus impostos, para o papa zero. Estado laico”, mais de cem organizações espanholas se revoltaram em agosto daquele ano contra os custos da Jornada Mundial da Juventude, alegando que o país atravessava um pico de desemprego que afetava mais de 20% da população economicamente ativa.
Além de protestos violentos, Madri registrou também, durante a Jornada Mundial da Juventude 2011, uma manifestação a favor das uniões homossexuais. Agora, no Rio de Janeiro, a ação promete se repetir, já que o movimento LGBT já começou a organizar um “beijaço” em terras cariocas.
Estão previstos também uma “marcha das vadias”, encabeçada por grupos feministas, e passeatas contra a corrupção. Rodrigo Franklin de Souza, coordenador de pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Mackenzie, diz que, caso se repitam os mesmos protestos da Espanha, se terá um termômetro de como está a relação entre a sociedade e igreja.
— Supondo que ocorram protestos, teremos a confirmação que a situação está muito frágil e vai se confirmar um descompasso crescente entre a igreja católica e a sociedade no Brasil. Se a atitude for mais amigável, ficará a ideia de que talvez alguns canais de comunicação estejam sendo restaurados. O que não quer dizer que vai reverter a queda do catolicismo no País, mas pode indicar que pelo menos alguma possibilidade de diálogo está surgindo.
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Fontes ligadas a participantes da JMJ espanhola se manifestaram alegando que tanto os protestos de 2011 quanto os programados para a próxima semana no Brasil não focam atacar a Igreja Católica, mas sim o gasto de dinheiro público em um evento destinado a um segmento religioso específico.
Estima-se que, na Jornada Mundial da Juventude de 2011, tenham sido gastos R$ 147 milhões. Segundo dados da consultoria PriceWatherhouseCoopers, o evento teria injetado mais de um bilhão de reais na economia espanhola.
Foi exatamente esta a justificativa dos organizadores da visita do papa Bento 16 à Espanha na hora de se defender das acusações de uso de dinheiro público. No Brasil, os gastos estão em torno de R$ 165 milhões, segundo dados oficiais. De acordo com Rodrigo Franklin, a questão dos gastos é complexa porque acaba envolvendo a separação da igreja com o Estado.
— Os gastos públicos devem ser focados para projetos que beneficiem a sociedade como um todo, independentemente de uma instituição religiosa particular. Mas, é importante frisar que, quando falamos de Estado laico, não quer dizer que é um Estado onde não existe espaço para oferecer algum tipo de apoio a algum tipo de religião. O que não pode é ter privilégios para uma religião em detrimento de outras. Nesse caso, o problema é que existem outras causas urgentes que poderiam estar sendo assistidas. E, investir isso numa jornada que é voltada para uma religião particular pode ser um problema. Mas existem inúmeros outros exemplos de gastos que são malfeitos no Brasil. Há um longo histórico no Brasil de gastos com eventos que no final das contas não trazem retorno social nenhum para a população.O especialista insiste que essa situação abre portas para questionamentos importantes.
— A igreja deveria ser encorajada a financiar o evento sozinha. E seria uma prática de boa vizinhança da igreja entender o momento que o País passa e bancar a visita do papa. É mais uma prova de que a igreja católica continua com dificuldade de entender a sociedade ao seu redor. Não era o momento de contar com recursos públicos.
DO PORTAL R7
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