A barbárie que modelou o processo de expansão do domínio europeu sobre povos internos e distantes, conquistas e colonizações, marcou a ferro o lombo da História.
No Oriente, não foi diferente. Mesmo assim pode-se dizer que a intolerância daí decorrente demarcava-se em espaços limitados e em tempos distintos.
E tudo se configurando num quatro de conquistadores oprimindo conquistados. Portanto, intolerância endêmica. Aquela que se limita por fronteiras claras.
“Evoluímos” para a epidemia, rompendo fronteiras e expandindo a intolerância. Evolução de domínio, involução de caráter.
Hoje, a epidemia já produz saudade. A intolerância virou pandemia. Não respeita mais qualquer limitação, nem fronteiras.
As guerras, com toda a força de estupidez que comportam, servem-se de todos os pretextos. Até as denominações religiosas, que sempre foram disfarces de interesses econômicos, agora elevaram o nível da intolerância à beira do céu. Onde vendem lotes às almas ingênuas, prometendo entrega após depositarem na terra os seus corpos mortos.
É um mercado macabro, cuja enganação agrega ao pacote a intolerância sem limite.
Ortega y Gasset dizia que o “homem não possui natureza, possui história”. Isto é, a natureza no homem é tão somente orgânica, não social; diferentemente dos irracionais, que possuem sociabilidade por natureza e não pela história.
A pandemia da intolerância, que vai da praça ao quintal, do continente ao município, do mar ao poço, do front da guerra ao campo de futebol, da igreja ao oratório, do parlamento ao bar, do tribunal ao cartório, do jornal ao fuxico, do bate-papo à internet, da arte à depressão.
E não é mais preciso uma diferença ideológica, política ou religiosa. Não. Basta discordar de qualquer bobagem para furar o fato e derramar as tripas.
Os veículos de comunicação viraram palanques. Cada um com a copidescagem pré-montada. Não importa informar ou questionar. “Meu lado é o bom e o resto não presta”. Nenhum espaço à tolerância.
A internet é uma praça de guerra. E no meio da luta fratricida, não há lugar para ponderações.
As revistas semanais e os grandes jornais do Sudeste promovem a regressão mental do jornalismo, para prover a “notícia” de facção. Informar com isenção deixou de ser um princípio. E é esse princípio que legitima a liberdade de imprensa.
Uma coisa é discordar. Outra é transformar a discordância em inimizade. E essa inimizade nasce fundamentada apenas na intolerância, sem que os contendores precisem de qualquer covivência pessoal ou relações sócias.
Conviver apenas com quem tem opinião convergente é facílimo. E muitas vezes chatíssimo. É o cansaço da concordância, não raramente fruto da preguiça de pensar.
O difícil e belo é conviver com a divergência. No respeito ao contrário. Na beleza do contraditório.
Té mais.
Por François Silvestre – escritor
Robson Pires
Nenhum comentário:
Postar um comentário