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Cerca de 10 mil manifestantes caminharam pela avenida Senador Salgado Filho. Policiamento teve reforço de 300 homens. Foto: José Aldenir
Servidores públicos municipais e estaduais, trabalhadores das áreas da saúde, educação, segurança, policiais civis, bancários e estudantes formaram um público de mais de 10 mil pessoas que foram às ruas em Natal na manhã de hoje, formalizando o ato unificado do Dia Nacional de Lutas. O movimento foi todo orquestrado pelas Centrais Sindical do país. Entre os organizadores do ato estão a Força Sindical, Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes e o Movimento dos Sem Terra (MST).
A pauta nacional de reivindicações é extensa e tem a ver principalmente com as demandas trabalhistas. Entre elas, o fim do Fator Previdenciário, fim do projeto de lei que amplia a terceirização, valorização da aposentadoria, a redução da jornada de trabalho sem abatimento salarial, reforma agrária e o fim dos leilões de poços de petróleo. Além disso, em Natal, o protesto contou com a força dos membros da Revolta do Busão, que voltaram a questionar o poder público sobre as melhorias no sistema público de transporte.
“Esse ato de hoje é diferente dos protestos que aconteceram ao longo do mês de junho, que começaram nas redes sociais e foram liderados por um movimento em defesa da redução do preço das passagens de metrô, trens e ônibus. Hoje estamos trabalhando outros setores da sociedade, principalmente aqueles que envolvem a classe trabalhista, e que também precisam de mais atenção dos governos”, avaliou Santino Arruda, presidente do Sindicato dos Servidores da Administração Indireta do Rio Grande do Norte (Sinai/RN).
A concentração do movimento aconteceu no cruzamento das avenidas Bernardo Vieira com a Salgado Filho, área que foi totalmente interditada por volta das 10h da manhã. Os manifestantes cumpriram um trajeto que parou em frente ao Hospital Walfredo Gurgel, seguindo em direção à zona Sul, passando por toda a avenida Salgado Filho, BR-101 e seguindo na avenida Roberto Freire. Os manifestantes ainda ameaçaram interromper as obras do Arena das Dunas, mas mudaram o rumo do trajeto.
Até o fechamento da edição deste vespertino, não houve nenhuma ocorrência de vandalismo ou choque entre os manifestantes e corpo policial. Segundo o Major Rodrigo Trigueiro, membro da Polícia Militar (PMRN), o movimento foi de ordem pacífica, plural e de respeito às diferenças. “Nós estamos acompanhando todo o movimento, com tropas nas ruas e reforço policial em motocicletas, carros e cavalaria. Ao todo, temos um efetivo de aproximadamente 500 homens para garantir a ação dos manifestantes e da população que passa por essas áreas”, afirmou.
De acordo com informações do Major Marinho, também da Polícia Militar, o efetivo está trabalhando sem armamento letal. “Estamos monitorando os protestos, inclusive com homens infiltrados. Está sendo utilizado armamento não letal, como tonfas (cassetetes) e sprays de pimenta. Em casos extremos, pode ser feito uso de armas com balas de borracha, mas está tudo nos conformes até agora, nada disso foi necessário”, explica o Major.
Marinho conta ainda que, por ser orientado pelas centrais sindicais, o movimento está muito mais organizado que os anteriores. “Das outras vezes, quando as manifestações eram horizontais, os estudantes nem sabiam direito para onde ir. Hoje foi tudo feito com planejamento, a polícia recebeu o itinerário da ação com antecedência, o que facilitou nosso trabalho. Além disso, realizamos blitz preventivas desde as 7h30 da manhã, diminuindo ainda mais o risco de incidentes durante os protestos”, finaliza.
Comércio
A recomendação das entidades ligadas ao setor do comércio em Natal, que orientaram os comerciantes a abrirem seus estabelecimentos normalmente, deixou muitas pessoas divididas. O maior shopping da cidade, o Midway Mall, que foi vítima do vandalismo em manifestações passadas, achou por bem fechar as portas até que o protesto saísse do entorno de sua área. Supermercado e pequenos empreendimentos nas avenidas percorridas pelos manifestantes também se protegeram como puderam, com tapumes e proteção de ferro.
No centro da cidade, enquanto se via muitas portas fechadas, também era possível observar funcionários nas portas das lojas, à espera de possíveis compradores. Para Isaac Newton, que possui um comércio de rua, dia de protesto equivale a uma perda de, aproximadamente, R$ 400. “Mesmo que o protesto não chegue aqui, as pessoas preferem não sair de suas casas. Como a gente fica sem ter lucro, muitas empresas preferem logo fechar as portas”, declarou.
Bancos
De acordo com a coordenadora geral do Sindicato dos Bancários, Marta Turra, cerca de três mil bancários paralisaram em todo o Estado. “Sofremos com os problemas como todo o cidadão, por isso integramos a pauta geral. Temos nossas reivindicações de melhores condições de trabalho, reajuste salarial e concurso público, por exemplo, e não poderíamos ficar de fora”, afirmou.
Enquanto acontecia a manifestação, a reportagem d’O JORNAL DE HOJE percorreu as principais vias da cidade e observou que muitos bancos resolveram fechar as portas. Na Prudente do Morais, Itaú e HSBC estavam fechados totalmente, enquanto que as agências do Banco do Brasil e do Bradesco estavam funcionando apenas com o autoatendimento. Em ambos os bancos não souberam informar a que horas o atendimento voltaria a ser normalizado.
#Revolta do Busão
Muitas pessoas estavam descrentes na participação do movimento da Revolta do Busão no Dia Nacional de Lutas. Por se tratar de um movimento que não levantou bandeira partidária nos últimos protestos ocorridos no mês de junho, ainda não estava clara a posição do grupo para este dia. Entretanto, segundo membro da Comissão de Comunicação da Revolta do Busão, João Victor Pereira, “a Revolta nunca negou organização partidária”.
“Nós sempre entendemos que se as pessoas querem se organizar, elas têm o direito de se organizar em partidos, movimentos estudantis, entidades. O que a gente não quer é que a Revolta do Busão seja tomada apenas por esse lado”, afirmou o estudante. “Desde então houve uma maturidade muito forte das pessoas em entender o nosso movimento, inclusive das pessoas apartidárias, que viram que nossa reivindicação também é plural e que ela aceita contribuição das centrais sindicais, dos partidos, e que nós estamos juntos para construir uma pauta de lutas nacional”, declarou João Victor.
Baile de Máscaras
A Revolta do Busão voltou a reforçar a maior pauta do grupo, que é a do Passe Livre para todos os estudantes e desempregados. Entretanto, diferente da maneira em que o grupo se expôs nos outros movimentos, grande parte dos manifestantes foram ao Dia Nacional de Lutas com os rostos cobertos por máscaras, capacetes e camisetas.
“Nossa intenção aqui é nos posicionar de forma lúdica e cultural, e brincar em relação à criminalização das pessoas que estavam usando máscaras nos últimos protestos. Muitas pessoas que cobriram seus rostos estavam baseadas em princípios de autonomia, de não querer se caracterizar ou personalizar o movimento”, explicou João Victor. “Logicamente que tem aquelas pessoas que se aproveitam da situação para o vandalismo. Mas o nosso questionamento é que a polícia abordou e prendeu todo mundo que estava com máscara, independente do que fosse. Por isso que resolvemos manifestar hoje através do baile de máscaras”, disse.
FONTE:JHRN
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