segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Segundo mandato de Dilma será marcado por crise hídrica em 13 estados


2014-755886025-2014-755830169-2014092980285.jpg_20140929.jpg_20140930Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo
Diante de uma das maiores crises hídricas do país, a presidente Dilma Rousseff (PT) começará o segundo governo com um cenário de seca que ultrapassa São Paulo, estado mais atingido pelo problema nos últimos meses. A falta de chuva já fez com que 1.234 cidades, em 13 estados, decretassem estado de emergência ao longo do ano, segundo o Ministério da Integração Nacional.
Não fazem parte da estatística municípios que não pediram ajuda do governo federal para lidar com a seca, como a maior parte das 53 cidades paulistas que já decretaram racionamento, nem a região metropolitana de Goiânia, onde moradores reclamam de problemas de abastecimento. Segundo o Ministério, parte das cidades em situação de emergência ainda se recupera da seca de 2012, quando a estiagem atingiu 2.056 municípios, de 16 estados.
Segundo dados do Ministério da Integração Nacional, os 1.234 municípios em situação de emergência podem ter acesso a recursos federais desde que “apresentem e aprovem um plano de ação que deve ser enviado ao Ministério”.
As mudanças climáticas não são a única explicação para a situação vivida por cerca de 22% das cidades brasileiras. Desmatamento e falta de políticas públicas voltadas ao saneamento básico e à despoluição dos rios estão entre os motivos apontados por especialistas em meio ambiente e gestão de recursos hídricos ouvidos pelo GLOBO.
— A situação de escassez que vivemos é um indicador de futuro. Pode ser o começo de um problema que se tornará crônico ou permanente nos próximos anos — afirma o ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam). — Os governos sofrem de falta de cultura ambiental e têm uma visão de curtíssimo prazo. Temos que aproveitar para rediscutir como lidamos com o problema.
Um dos principais erros dos governos, na opinião de Bocuhy, é apostar em obras de grande porte, em vez de pensar em medidas criativas:
— Me parece que os governos têm preferência por grandes obras, quando há alternativas mais simples e baratas. Sempre falamos da corrupção como uma forma de desviar dinheiro público. Mas é também uma forma de desviar as boas ideias e decisões.
O regime de chuvas do Centro-Oeste e do Sudeste está ligado à Amazônia, segundo Bocuhy. A umidade da floresta encontra a cordilheira dos Andes e se desloca para o sul do país, formando as chuvas que abastecem os reservatórios das duas regiões. Quanto menos árvores, menor é a umidade da floresta, e, como resultado, menor será a quantidade de precipitação.
A derrubada de árvores tem outros dois efeitos diretos sobre os reservatórios, cada vez mais secos, segundo a arquiteta Marussia Whately, coordenadora do Programa Mananciais do Instituto Socioambiental (ISA). As plantas protegem os mananciais, de onde saem os rios, diminuindo a velocidade com que a água da chuva chega às represas. Sem a proteção das árvores, aumenta o desassoreamento dos reservatórios e a infiltração de água.
Segundo Marussia, é preciso evitar que o esgoto chegue aos rios. Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), publicada em setembro, mostram que a coleta de esgoto chegou a 64,3% dos domicílios do País em 2013. O uso de fertilizantes e o desmatamento também contribuem para a poluição.
— Nós crescemos ouvindo que o Brasil tem 12% de toda a água doce do planeta. Isso gera no nosso imaginário uma situação confortável que não é verdadeira — afirma Marussia. — O Nordeste está entrando no quarto ano de seca, o Sul do país está afogado em chuvas, o Sudeste sofre com uma seca histórica. Não adianta relacionar isso apenas ao clima.
O Globo

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