Há três dias, pais estão acampados na calçada dos CMEI's. Matriculas só começam no próximo dia 21
Roberto Campello
Com cadeiras, travesseiros e colchões, dezenas de pais estão enfrentando sol e chuva para conseguir matricular os filhos nos Centros Municipais de Educação Infantil de Natal. Desde a sexta-feira passada, dia 9 de janeiro, é possível encontrar pais acampados em frente das escolas em busca de vagas. Na zona Norte da cidade a situação ainda é mais delicada. No bairro de Nossa Senhora da Apresentação, por exemplo, o maior da zona Norte, há apenas dois CMEI’s para atender a demanda crescente: o CMEI Professora Célia Martins e o CMEI Belchior Jorge Sá, inaugurado há pouco mais de um ano. A situação deve se estender, pelo menos, até o dia 21 de janeiro, quando serão realizadas as matrículas da rede municipal de ensino.
Por meio de uma rede social, o vereador Sandro Pimentel denunciou na noite deste domingo (11) a situação vivida pelos pais na zona Norte de Natal, após uma visita ao CMEI Belchior Jorge Sá. “Essa é uma situação de humilhação para crianças e mães. Eles vão ficar 14 dias numa fila, dia e noite, no relento e o vigia está proibido de servir água ou abrir o portão para eles irem ao banheiro. É revoltante isso e não podemos aceitar”, disse o vereador.
A situação no Centro Municipal de Educação Infantil Professora Célia Martins é delicada, pois a direção não disponibilizou o número de vagas oferecidas para este ano. Na manhã desta segunda-feira (12), a lista de espera já tinha 49 pessoas, mas nem todos tinham a certeza de garantia da vaga. A escola tem capacidade para 284 alunos. A equipe de reportagem tentou falar com a direção da escola, mas foi informada que estavam em reunião e não poderiam atender.
O número 1 na lista de espera por uma vaga na CMEI Professora Célia Martins é a dona de casa Maria da Conceição que chegou às cinco horas da manhã da sexta-feira, dia 9 de janeiro. Ela mora no Vale Dourado e espera conseguir uma vaga para dois filhos. “Se eu deixasse para vir depois não encontraria vaga nem pra dormir na calçada, quanto mais para o meu filho estudar”. Maria da Conceição reclama da falta de segurança. “Estamos aqui a mercê de qualquer coisa e muitas das mães tem que trazer seus filhos para cá. Ninguém consegue dormir direito com medo de que algo pior possa acontecer”.
Rosa Oliveira está com o marido e ocupa a segunda posição da lista de espera. Ela é a responsável por ordenar a fila e garante que não há venda de vagas, pois as pessoas que chegam têm que provar que querem vagas para seus filhos. “Não admitimos isso aqui. Estamos nesse sofrimento e humilhação porque precisamos. Isso é um descaso com a população, pois todo ano é a mesma coisa. Se não nos adiantarmos perdemos a vaga e como vamos trabalhar se temos que cuidar dos nossos filhos? Estamos aqui por questão de necessidade”, desabafa a mãe que está em busca de vaga para dois filhos.
A dona de casa Verônica Costa também chegou na sexta-feira passada e acampou em frente ao CMEI em busca de uma vaga para o filho de quatro anos. Ela trouxe uma cadeira de balanço e um colchão. “É uma situação ruim, mas é o único jeito para garantir a vaga do meu filho. Na verdade, não temos nem a certeza de garantia que conseguiremos matricular nosso filho”. Ano passado, Verônica não conseguiu uma vaga para o filho. Este ano, ela é o número 43 na lista de espera.
Já a mãe Maria de Fátima chegou na manhã de hoje e é a última da lista. Ela conta que não pode dormir na fila, por conta do filho de um ano e dois meses, mas que um sobrinho dormirá na calçada da escola para garantir a vaga. “Isso é um absurdo. Precisamos de um sistema mais humano, pois estamos falando de crianças. A situação é crítica porque eu preciso trabalhar e não tem com quem meu filho ficar. Preciso muito dessa vaga”, afirma Maria de Fátima.
Em alguns cmeis já não ha mais vagas
A situação do CMEI Belchior Jorge Sá também não é diferente. Desde as 9h da manhã do dia oito de janeiro que já tem mãe acampada em busca de vaga. Diante da situação, a direção da escola decidiu antecipar a divulgação do número de vagas para que as mães saibam as vagas existentes. A escola só tem capacidade para 110 alunos e na manhã de hoje já não existia vagas para os níveis I e III. Para o berçário havia 15 vagas, nível II tinha três vagas e o nível IV contava apenas quatro vagas.
A noite passada foi tensa para quem estava em frente ao CMEI. Primeiro houve uma briga entre duas pessoas que estavam na fila, com as pessoas jogando pedras uma na noite. Ninguém ficou machucado. Em seguida, um motorista alcoolizado estava ameaçando jogar o carro contra o muro da escola. Na confusão, a polícia foi acionada e um pai teve um ataque epilético e foi socorrido pelo SAMU até o Hospital Santa Catarina.
A dona de casa Araudja Sanderli conta que chegou na quinta-feira da semana passada em busca de uma matrícula para o filho de dois anos, mas foi informada de que não havia vaga. Depois de conversar com a diretora, ele recebeu a garantia da vaga. “Se eu não tivesse vindo não teria conseguido a minha vaga. Mas graças a Deus que consegui”, comemora.
Ana Paula Vitorino mora no Parque dos Coqueiros, é a segunda da lista e busca vaga para dois filhos. Um de um ano e seis meses (berçário) e o outro de dois anos e seis meses (nível I). Para um filho, há vaga na escola, mas para o outro não. “Eu trabalho e não tem quem fique com meu filho. Por isso o sacrifício de ficar aqui desde a semana passada”. Ela conta que havia procurado o CMEI Professora Célia Martins e que desistiu de ficar lá porque já tinha muita gente. “Chegaram a perguntar se eu queria comprar uma vaga na fila por R$ 300, mas eu acho isso um absurdo, pois todos precisam”
A diretora do CMEI, Maria Edna, conta que entende que a situação é delicada e tem feito o máximo para minimizar os danos. Hoje pela manhã, a diretora recebeu todas as mães, ouviu e explicou a situação da escola a cada uma. Ela, inclusive, antecipou a entrega das fichas às mães para que elas voltassem para casa com a garantia da vaga para não precisar mais dormir na calçada. Antes, a diretora mandou servir água para as mães e crianças.
“Infelizmente não temos vagas para todo mundo, mas temos que dar atenção a todas elas, pois a situação é delicada. Na sexta-feira quando soube da situação, vim correndo para conversar com elas e explicar a situação. Não temos estrutura para ampliar o número de vagas e a prioridade é a demanda interna. A própria comunidade se antecipou e começou a dormir na calçada para garantir as vagas. Distribuímos as fichas internas para evitar a situação de risco”, afirma a diretora Maria Ednar.
O CMEI Belchior Jorge Sá é um dos mais modernos de Natal e conta com quatro salas equipadas com aparelhos de ar condicionado. A diretora explica que as salas têm uma capacidade máxima de aluno e que não pode ser ultrapassada. “Temos um compromisso pedagógico e não podemos ultrapassar essa capacidade”, ressalta a diretora.
do JHRN
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