"Antes do jogo, eu cheguei para o Leandro Bonfim, que era o nosso camisa 10, e falei para ele marcar o 4, porque ele concentrava todo o jogo deles. O Leandro disse: 'professor: ele que é o volante, ele que tem que me marcar.'"
Em 1999, lembra o técnico do Vitória sub-15 na época, Mário Morais, Leandro Bonfim, então com 15 anos, era um garoto tratado como fenômeno, candidato a astro da seleção brasileira no futuro.
Reprodução/youtube | ||
Reprodução de vídeo no momento em que Iniesta, 14, é premiado |
O tal do camisa 4, relembra o treinador, era um menino pequenininho, franzino, "que não passaria em nenhuma peneira no Brasil por causa do corpinho", mas que carregava a braçadeira de capitão do Barcelona. "A gente só o conhecia como Andrés".
Os conselhos de Morais de nada adiantaram. Leandro Bonfim não se preocupou em marcar o camisa 4 e nem conseguiu criar as jogadas que o Vitória tanto precisava.
Fernando Santos-15.ago.2005/Folhapress |
Leandro Bonfim se apresenta no São Paulo, em 2005 |
Já o menino de 14 anos, que só dois anos antes havia derrubado um mar de lágrimas por saudade dos pais ao chegar ao aclamado CT da base do Barcelona vindo de Fuentealbilla, uma vila de 2.000 habitantes perto de Albacete, acabou com a equipe baiana.
Foi Andrés que partiu do meio de campo, tabelou, driblou dois adversários e deu o passe para o primeiro gol do Barcelona no 2 a 0 sobre o Vitória, que classificou os catalães para a final da Nike Premier Cup sub-15, na Espanha.
Na decisão, outra atuação de protagonista. Marcou no último minuto o gol que deu o título ao Barcelona sobre os argentinos do Rosario Central (2 a 1). Além do troféu de campeão, levantou o prêmio de melhor jogador do torneio.
A taça hoje deve estar esquecida em algum canto da sua mansão em Barcelona, escondida entre as réplicas dos seis títulos espanhóis, das três Copas dos Campeões duas Eurocopas e de uma Copa do Mundo que conquistou.
Aquele gol de 14 anos atrás certamente mal vem a sua mente quando pensa nos momentos mais emocionantes de sua carreira. Ou há emoção maior que anotar, já na prorrogação, o gol do primeiro título mundial do seu país, como ele fez contra a Holanda na Copa-2010?
Andrés, o garoto que assombrou o Vitória em 1999, virou Iniesta, o segundo melhor jogador do mundo em 2010 e terceiro no ano passado. O craque da Espanha, a seleção mais vitoriosa da atualidade e coadjuvante de luxo de Messi no Barcelona.
Já Leandro Bonfim, que depois de rodar e nunca se firmar por grandes clubes do Brasil disputou o último Estadual do Rio pelo Audax, ainda tenta justificar por que não marcou aquele camisa 4.
Marcos Brindicci /Reuters |
Andres Iniesta em treino da Espanha |
"Falei aquilo porque a gente jogava no mesmo esquema e eu tinha que ir para o ataque também. Ele era volante, o normal seria me marcar."
O treinador do Vitória prefere guardar boas recordações daquela tarde e se orgulha de ter visto um craque ainda em estado bruto.
"Era impressionante. Garotos normalmente falham demais, mas ele não, acertava todos os passes. O Iniesta ganhou aquele campeonato sozinho", afirma Morais, que hoje dirige seu próprio clube na Bahia, o Salvador FC.
"Sempre uso ele como exemplo quando chega um pai e um empresário querendo me vender jogador, falando que é craque. Falo que craque mesmo era aquele menino número 4, que era todo franzino e matava o jogo."
FONTE: FOLHA.COM
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