sábado, 3 de janeiro de 2015

Novos ministros escancaram partilha política e admitem desconhecimento de pastas


As 16 primeiras transmissões de cargo dos ministros que compõem o primeiro escalão do segundo governo da presidente Dilma Rousseff (PT), ontem, foram marcadas por discursos que escancararam as disputas políticas por espaços no governo em detrimento de critérios técnicos. Ministros empossados assumiram seus postos ressaltando que só estavam lá a pedido de seus partidos, enquanto outros externavam o fato de não terem qualquer afinidade com as áreas que comandarão.
Ninguém expôs mais o caráter fisiológico das escolhas quanto o novo ministro do Esporte, George Hilton. Deputado federal de pouca expressão pelo PRB e pastor da Igreja Universal, Hilton nunca apresentou projeto ou fez discurso sobre esporte e deve sua indicação ao crescimento de seu partido, que saltou de 10 para 21 deputados. No discurso, admitiu o desconhecimento da área e defendeu o diálogo como caminho para uma boa gestão.
— Posso não entender profundamente de esporte, mas entendo de gente. Eu entendo de gente. Eu sei ouvir, sei dialogar, sei criar convergências entre opostos e usarei a capacidade de gestão política em favor do esporte brasileiro, com toda a minha energia — disse, indo ao fim do discurso para uma sala reservada, como forma de evitar entrevistas.
Em seu pronunciamento defendeu a ampliação do esporte na escola, mas falou pouco sobre as Olimpíadas de 2016, evento no qual terá atuação reduzida. Disse que as críticas recebidas até agora são um estímulo:
— As críticas não me abatem, pelo contrário, elas me impulsionam cada vez mais a desafiar a mim mesmo e tornar possível realizar proezas.
‘O PMDB ME PROPORCIONOU ESTAR AQUI’
Indicado pela cúpula do PP, um dos principais partidos implicados até agora no escândalo da Petrobras, o novo ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, tomou posse agradecendo aos dirigentes da legenda pela indicação para ocupar a pasta. Ao lado do púlpito onde discursou, estavam nomes destacados pelo ministro, como o presidente a sigla, senador Ciro Nogueira (PI), o senador Benedito de Lira (PP-AL), o líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte (PP-PE), o ex-ministro das Cidades Agnaldo Ribeiro (PP-PB). Os dois primeiros estão entre os parlamentares que teriam sido citados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como beneficiários do esquema de pagamento de propinas a parlamentares aliados a partir de contratos da estatal.
— Quero agradecer, em seu nome, Ciro, a oportunidade e a confiança. Talvez a confiança que a presidente Dilma deposita no PP é decorrente de sua liderança na presidência junto com esses membros que estão ai do partido — discursou Occhi, que antes da Integração era o titular do Ministério das Cidades, também por indicação do PP.
O deputado federal peemedebista Edinho Araújo (PMDB-SP) assumiu ontem o cargo de ministro-chefe da Secretaria Especial dos Portos (SEP) saudando o seu partido e a coalizão que o levou a assumir o posto no Executivo. Em seu discurso na cerimônia de posse, o ministro afirmou que promoverá a continuidade do trabalho de seu antecessor, Cesar Borges. Ele fez uma enfática defesa de seu partido.
— Sou político e me honra muito quando me chamam e me apontam pelo fato de sê-lo. O PMDB me proporcionou estar aqui. Sem partidos fortes como o PMDB é, não existem candidatos, nem candidaturas, e muito menos deputados eleitos. Devo muito ao partido e suas principais lideranças — disse Araújo.Ex-prefeito de Ananindeua, no Pará, e filho do senador Jader Barbalho, o novo ministro da Pesca, Hélder Barbalho, Formado em Administração, ele afirma que, sabendo gerir, conseguirá tocar o Ministério. Ele ressaltou ainda que “o Pará é a segunda província pesqueira do país”.
— Tenho a convicção que ela (a presidente Dilma) compreendeu que poderia congregar tanto a qualificação técnica por conta da minha formação profissional, minha experiência administrativa, como também tem o apoio político do meu partido, afinal, o PMDB tem a vice-presidência da República — disse Hélder Barbalho, completando mais tarde.
‘FUI ABANDONADO PELO PARTIDO’
A exceção que melhor confirmou o peso da indicação política foi o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Na cerimônia em que repassou o comando do Ministério da Previdência para o petista Carlos Gabas, justificou a saída pela falta de apoio de seu partido. Em tom de desabafo, lembrou que já se referiu ao Ministério como um abacaxi, mas que deixava a pasta chorando.
— Fui abandonado pelo meu partido que não quis mais o Ministério da Previdência. Gabas, o Ministério é todo seu — disse o ex-ministro.
O Globo viA Blog do BG

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