Sem citar valores, o doleiro Alberto Youssef disse em depoimento prestado nesta quarta-feira (29) na Justiça federal no Paraná que a Odebrecht pagou propina também no Brasil, onde os valores eram entregues em dinheiro vivo para funcionários da estatal e políticos.
Ele afirmou que dois operadores fizeram os pagamentos em espécie supostamente ordenados pela empreiteira: a doleira Nelma Kodama e Leonardo Meirelles, que emprestava contas no exterior para Youssef fazer remessas ilegais.
Até agora, a empreiteira só havia sido associada por delatores a pagamentos de suborno fora do país. O ex-presidente da Petrobras Paulo Roberto Costa, por exemplo, disse ter recebido US$ 23 milhões da empreiteira em contas na Suíça, conforme a Folha revelou em outubro.
O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco também disse em acordo de delação ter recebido cerca de US$ 1 milhão da Odebrecht na Suíça e entregou o que seria o comprovante da transação, feita por uma empresa do Panamá, a Construcciones del Sur.
O doleiro assinou um acordo de delação premiada segundo o qual terá uma pena de três a cinco anos em regime fechado, dependendo das revelações que ele trouxer no curso dos processos.
Youssef não mencionou quem teria recebido o suborno que ele atribui à Odebrecht, o que pode ser uma estratégia para evitar que eventuais alvos de futuras investigações sejam alertados.
O doleiro prestou depoimentos em cinco ações penais, que envolvem as empreiteiras Camargo Corrêa, OAS, UTC, Mendes Junior e Engevix. O interrogatório durou cerca de cinco horas, dividido em duas sessões.
Youssef disse que movimentou entre US$ 150 milhões e US$ 180 milhões e que seu lucro nesse processo foi de R$ 7 milhões, valor que o juiz federal Sergio Moro encarou com ceticismo, segundo quatro advogados que acompanharam os depoimentos.
Leonardo Meirelles, que era laranja do doleiro, já havia dito que recebera recursos da Odebrecht em contas que ele mantém na China e em Hong Kong e pediu autorização à Justiça para buscar os extratos que comprovariam a transação em que aparecia depósitos da Odebrecht.
O juiz autorizou a viagem de Meirelles, que deve ocorrer na segunda quinzena de maio, de acordo com o advogado Haroldo Nater, que o defende nos processos da Operação Lava Jato.
Nater disse que Youssef deve ter se confundido ao citar o nome de Meirelles como operador de suborno no Brasil. Segundo ele, seu cliente fez operações para a Odebrecht no exterior.
Em dezembro, Nelma Kodama foi condenada a 18 anos de prisão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha, entre outros crimes. Ela foi presa em março do ano passado, quando tentava embarcar para a Itália com 200 mil euros escondidos na calcinha. Desde janeiro ela negocia um acordo de delação premiada para tentar reduzir a pena a que foi condenada.
A Folha não conseguiu localizar o advogado de Nelma.
OUTRO LADO
A Odebrecht afirma em nota que "refuta, mais uma vez, as afirmações caluniosas, contra a empresa e seus integrantes, feitas por doleiro réu confesso em dezenas de processos da Justiça Federal do Paraná". Segundo a empresa, "é lamentável assistir a uma mentira ser reconstruída e emendada tantas vezes ao longo de vários depoimentos e 'delações', sem que isso traga qualquer consequência para um réu confesso em desespero para obter o perdão para seus crimes".
A Odebrecht reafirma que "não fez nenhum pagamento ou depósito para qualquer ex-executivo da Petrobras ou a seus supostos intermediários". A empresa nega também ter participou de cartel, como aponta o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, "outro réu confesso nos mesmos processos".
CUNHADA DE VACCARI
Youssef foi indagado sobre um pedido feito a ele por um executivo da OAS para que providenciasse a entrega de R$ 110 mil no endereço de Marice Correa de Lima, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, em 2013, segundo quebra de sigilo de mensagens realizada na Lava Jato.
O doleiro disse não saber se o dinheiro era referente a propina, mas afirmou que o valor teve origem no caixa dois da OAS e foi efetivamente entregue.
A assessoria de imprensa da OAS afirmou que a empresa nega veementemente as alegações de Youssef.
fonte:Folha.com
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