domingo, 12 de janeiro de 2014

"slut shaming" POLÊMICA E AINDA NEM COMEÇOU. .. BBB14

Segunda-feira (6) entrei na internet e
ela estava toda feminista. Perdi as
contas de quantas pessoas
compartilharam o texto
"Xingamento", assinado por Gregorio
Duvivier e publicado na Folha de
S.Paulo . Nele, Duvivier fala sobre
quão errado é utilizarmos adjetivos
de cunho sexual como agressão.
Usou exemplos voltados às mulheres
e aos homens - apontando, com
razão, que mesmo quando os
homens são o alvo da chacota, é a
mulher que se relaciona com ele
(mulher, parceira) quem leva a
pedrada.
Por mais restrições que eu tenha ao
texto (e tenho várias), foi curioso ver
as timelines do Facebook e Twitter
cheias de links para uma coluna que
exemplifica um termo muito usado
no feminismo, o slut shaming.
Fazendo uma tradução bem pobre,
slut shaming significa "chamar de
puta". Na verdade, ela engloba algo
muito maior: representa o
julgamento moral do caráter de uma
mulher baseando-se na vida sexual
dela. A vida de verdade ou a que o
agressor inventa. Ao exclamar
"vadia!", a pessoa não está falando
que tal mulher tem vida sexual
reprovável (como se fosse possível
medir ou passar a régua no que é
certo ou errado na cama); a mulher
vira toda reprovável.
Uma vadia , assim vista socialmente,
está vários degraus abaixo da linha
de ser humano. De repente ela não
serve para ser mãe, profissional,
colega de faculdade, nada. Ela se
resume à agressão, ao nome que lhe
imputaram, e tem culpa de tudo de
ruim que porventura lhe acontecer.
Isso é o slut shamin g, prática que
todas as feministas combatem. Nós
já escrevemos textos e mais textos a
respeito; nos encontramos para
discutir o assunto; marchamos uma
vez por ano pelas ruas.
Ainda assim, foi preciso um homem
vir dizer que fazer isso é errado.
Pensei que tinham escutado e que -
ah! prazer dos prazeres - pelo
menos essa parte da militância nós
já poderíamos deixar de lado.
"Todos agora entenderam quão
errado, agressivo e destrutivo o slut
shaming é, e ninguém mais vai usar
de palavras tão baixas para se referir
a uma mulher; tampouco irão
diminuí-la em razão de qualquer
coisa que ela tenha feito - ou
deixado de fazer - em sua vida
sexual", imaginei, aqui, no meu
conto de fadas. Que amor tanta
gente descobrindo o feminismo!
De um dia pro outro, literalmente, as
coisas mudaram totalmente de
figura. Saiu a lista dos participantes
da nova edição do Big Brother Brasil
e, entre os escolhidos, há uma
garota que trabalhou como camgirl .
Camgirls são mulheres que fazem
aparições eróticas via webcam,
enquanto a pessoa do outro lado da
tela paga por minuto para assisti-
las.
Vasculharam a vida online da
participante, compartilharam vídeos
da mesma, e os xingamentos se
multiplicaram. Na mesma internet
que na véspera um texto quase
feminista (mil aspas, por favor) foi
profusamente compartilhado, agora
o slut shaming corria solto. O
programa ainda nem começou, mas
já sabemos qual é a vadia da vez.
Dormi com a internet feminista,
acordei com a misógina. Fica difícil
entender, afinal, qual é a das
pessoas, onde elas querem chegar,
o que realmente lhes toca. É a
discussão levantada pelo texto ou é
a malhação da moça que usou o
próprio corpo, e tão somente o
próprio corpo, para uma prática
absolutamente legal?
Quem somos?
Vamos decidir? Somos pessoas
boas, bacanas, e que não se
importam com a vida sexual alheia?
Ou somos babacas, cretinos e
machistas de plantão, apenas à
espera do surgimento da próxima
safada, quando nos uniremos em
manada com outros imbecis e a
xingaremos e a trataremos pior do
que lixo?
Em breve você poderá ver a vida da
moça com um clique no controle
remoto. Mas a sua, dependendo da
reação, já está exposta.
Afinal: de que lado você está?


Fonte: Carta Capital

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