Tribuna do Norte - O número de eleitores aptos a votar nas eleições de outubro deste ano no Rio Grande do Norte segue na contramão do país. Enquanto o eleitorado nacional teve um incremento de 4,43%, o potiguar é 2% menor, ou seja, 46,8 mil a menos, na comparação com o total de votantes habilitados nas eleições de 2012. São 2.302.448 eleitores hoje ante os 2.349.281 em condições de participar do pleito anterior.

Os dados são do último levantamento feito pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado (TRE/RN), a pedido da Tribuna do Norte, após a conclusão do processo de cadastramento encerrado no último dia 7 de maio. Contudo, os dados consolidados só serão divulgados pelo TRE/RN no final de junho e devem apresentar baixa variação, de acordo com o Tribunal.
Para ter dimensão da queda, observam especialistas, a diferença entre os que compareceram ao cadastramento até 7 de maio de 2014 e o total computado há dois anos é suficiente para eleger um deputado estadual no RN. Em 2010, dos 24 deputados eleitos para ocupar a Assembleia Legislativa, nove tiveram mais de 46 mil votos. O parlamentar mais votado, Antônio Jácome (PMN) teve 54.743 sufrágios, enquanto o de menor número de votos, o petista Fernando Mineiro ficou com 24.718.
Para o procurador da República, Edilson França, que irá coordenar o Comitê de Combate a Corrupção nas Eleições 2014 da OAB/RN, a queda já era esperada. “Além do comodismo de alguns eleitores, há um evidente desencanto com a política, tal como essa atividade vem sendo praticada por alguns políticos. É uma pena, porque a participação do eleitor é fundamental numa democracia”, lamenta.
O estatístico Mardone França avalia que a repercussão no pleito de outubro só pode ser apreciada sob o prisma quantitativo, haja vista que o perfil social, econômico e cultural dos eleitores “arredios” ainda não foi divulgado pelo TRE. “O impacto não será tão significativo, que possa prejudicar a representatividade politica”, analisa Mardone.
Outro dado que chama atenção é a estimativa de títulos cancelados esse ano, que poderá chegar a 75 mil, segundo a Justiça Eleitoral. Várias razões podem incorrer para o índice, observa o estatístico Mardone França, que vão desde a dispensa da população idosa, como também jovens com 16 e 17 anos que estejam decepcionados com a politica e reagem dessa forma.
É preciso considerar também, analisa o representante do Comitê da OAB/RN, Edilson França, “que a revisão biométrica, efetivamente, erradicou a dupla inscrição e outra qualquer forma de fraude dentro desse campo”, destaca ele.
Natal
Em Natal, o número de eleitores a menos (24 mil) também poderia decidir as eleições. Dos 29 parlamentares eleitos para o Legislativo Municipal, apenas um obteve mais de 24 mil votos, a vereadora Amanda Gurgel (PSTU), que contabilizou 32.819 votos. O segundo mais votado teve 9,5 mil.
Em algumas zonas eleitorais da capital, a 4ª e 69ª, se percebe queda de 5% entre o número de votantes que fizeram a revisão biométrica 2014 e os aptos, em 2012. “Além do descontentamento evidente, nas regiões onde a ausência do Estado é mais sentida, revela-se natural que o eleitor se faça mais ausente e desinteressado”, disse.
Bate-papo - Antônio Spinelli
Cientista político e professor da Universidade Federal do RN
Que leitura podemos fazer dessa redução no número de eleitores no Estado?
À primeira vista, a redução no número de eleitores é inesperada, uma vez que a população do Estado e da capital cresceu nesse período. Porém, diversos fatores devem ser considerados: o primeiro são as dificuldades do processo de recadastramento, implicando que uma parcela residual do eleitorado não foi adequadamente mobilizada para se recadastrar. Outro ponto: a pirâmide demográfica vem sofrendo modificações devido à baixa da taxa de natalidade e ao envelhecimento da população; com isso, cresce a faixa da população com mais de 70 anos, legalmente desobrigada do exercício do voto; é possível que parte desses, por desinteresse ou por impossibilidade, tenha se alienado da política eleitoral. Por outro lado, aqui o terceiro ponto, é possível que parte dos jovens de 16 e 17 anos, legalmente aptos a votar mas não obrigados a isso, tenham resolvido adiar a obtenção do título. Só é possível avaliar o impacto desses fatores com dados estatísticos detalhados e precisos, que não temos nesse momento.
O contexto político e de movimentos sociais podem ter influenciado?
Não se pode deixar de levar em conta a possível influência da atual conjuntura política mundial e nacional, além de estadual, permeada por intensas mobilizações de rua que formulam demandas ao sistema político como um todo e atuam por fora do sistema representativo institucionalizado. Esses fatos, juntamente com uma cobertura midiática que desvaloriza persistentemente a política, podem conduzir certos estratos da população, sobretudo o estrato de pessoas mais jovens, a se afastar da política eleitoral. Pode ser que tudo isso venha a se refletir numa maior taxa de abstenção eleitoral e de votos nulos e brancos. Não acredito, porém, que isso vá ao ponto de constituir uma deslegitimação das eleições.
Quais implicações podem trazer para o pleito de outubro, caso esta queda se mantenha ao final do processo de regularização?
É difícil saber o impacto sobre as eleições em si porque a não participação teria, teoricamente, o sentido de recusa a todo o quadro partidário vigente. Mas, pode ser indicativo do início de uma tendência a uma maior abstenção eleitoral nos próximos pleitos.
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