quinta-feira, 19 de junho de 2014

Mecânico da Marinha norte-americana larga emprego e viaja para o Brasil sobre duas rodas

Oswaldo Reis/Esp. CB/D.A Press
Aaron Riner levava uma vida tão sem graça que todos os dias eram segundas-feiras. Aos 30 anos, era mecânico da Marinha dos Estados Unidos. Insatisfeito com a monotonia, entrou na sala do chefe para pedir férias. Negadas imediatamente. Tentou argumentar que não tinha descanso há mais de um ano. Em vão. “Você tem muito a fazer aqui, volte ao trabalho”, ouviu do superior. Aaron arregalou os olhos azuis, bateu a porta e partiu. Destino? A Copa do Mundo no Brasil.

A ideia de acompanhar o Mundial de 2014 surgiu há quatro anos, quando esteve na África do Sul durante a última Copa. Lá, conheceu os “Oranje Trophy”, grupo de holandeses que viajam usando qualquer meio de transporte que não seja o avião. Vans, carros, motos, vale tudo para fugir da viagem convencional. Aaron botou na cabeça que um dia faria isso. E fez. Comprou uma motocicleta por US$ 14 mil, juntou o suficiente para US$ 50 por dia de viagem e, em março deste ano, anunciou para a família que faria a viagem. Aaron ouvia o pai repetir pelos cantos da casa: “Louco, ele é maluco”. A família queria saber como ele viajaria para outro continente em cima de uma moto, além de ter de fugir dos sequestros, assaltos e violência dos protestos no Brasil.

O único cuidado extra que tomou foi deixar a barba crescer. Conselho dos amigos. Quanto menos se parecesse com americanos, diziam eles, melhor. Desde Seattle, noroeste dos Estados Unidos, até Brasília, foram mais de 22 mil km percorridos (mais da metade de uma volta ao mundo). Incluindo balsas no canal do Panamá que o levaram até Cartagena, na Colômbia, de onde seguiu viagem pela América do Sul. Ele lembra com exatidão de cada cidade que visitou nos 12 países visitados. “Só quem anda de moto sabe como um cachorro se sente com a cabeça fora da janela”, repete o viajante, para justificar a escolha pela moto para fazer uma viagem tão longa.

Instalado em um camping próximo ao autódromo de Brasília, Aaron mostra a moto, suja nos mínimos detalhes. Orgulhoso, dá um tapa no banco traseiro, dizendo que o veículo só deu problema uma vez, quando esqueceu de colocar água no radiador. A quantidade de bagagem impressiona. Um infinito de ferramentas jogadas pela grama, além da barraca e de roupas. É difícil acreditar que ele consiga levar tanta coisa sobre a moto. Mistério que Aaron faz questão de desvendar. Como quebra-cabeça, empilha três caixas na traseira da moto, e, dentro delas, guarda tudo. Mas o caráter minimalista ajuda. Carrega apenas três camisas, quatro calças e quatro cuecas para a aventura. “Essa é exatamente a mesma roupa que eu estava ontem”, confessa Aaron.

Coisa de comunista
A paixão pelo futebol começou aos oito anos de idade — considerado precoce quando se trata de um americano. Em 1994, quando tinha 10 anos, Aaron pôde assistir nos estádios a todos os jogos da seleção dos Estados Unidos na Copa do Mundo, sempre acompanhado pelo pai. “Meus ídolos do futebol são todos americanos. Eddie Pope, Alexis Lalas, Tony Meola”, enumera. Para ele, o Mundial foi fundamental para tornar o esporte popular e diminuir o preconceito no país. “Minha irmã jogou futebol na universidade. Assim que ela se casou, o marido a proibiu, disse que era coisa de gays e comunistas”, relembra. “Hoje, ele adora ir aos jogos do Seattle Sounders (time de futebol para qual Aaron torce) conosco”, completa.

Quando a Copa acabar, promete viver a antiga rotina. Raspar a barba, vender a moto e voltar de avião. Só ao antigo emprego que ele não garante retorno. “Meu chefe não deve gostar muito de mim”, brinca Aaron.
FONTE: CORREIO BRASILIENSE

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