Pelo  menos, doze prefeituras do Rio Grande do Norte, que realizaram festas,  nos últimos anos, com a contratação de bandas, estão na mira do  Ministério Público Federal e Estadual. O MPF/RN possui, atualmente, oito  procedimentos administrativos que investigam o repasse de verba federal  para sete prefeituras. O dinheiro custeou  festejos juninos. Já o MP/RN  instaurou inquérito contra, pelo menos, seis prefeituras.
Segundo as informações  divulgadas pela Assessoria de Comunicação do MPF "ainda não é possível  afirmar se há desvio de recursos públicos, pois os procedimentos ainda  estão em fase de apuração". O MPF não liberou o valor dos contratos  investigados. Um levantamento feito pela TRIBUNA DO NORTE no portal da  Transparência do Governo Federal mostrou que nos anos de 2010 e 2011, o  Ministério do Turismo liberou R$ 5,5 milhões para realização de  festividades em diversos municípios potiguares.
A TN solicitou, no entanto,  dados mais detalhados à Assessoria de Comunicação do Mtur, mas até o  fechamento dessa edição as informações não foram enviadas. Ao falar  sobre as investigações no âmbito do Ministério Público Estadual, a  promotora de Justiça, Izabel de Siqueira Menezes, coordenadora do Centro  de Apoio às promotorias do Patrimônio Público, disse que o número de  inquéritos pode até ser maior do que o divulgado por ela ontem.
"Estou mencionado os que lembro,  mas várias comarcas abriram mais de um processo para investigar esses  contratos, principalmente em  2011 e no 1º semestre deste ano", afirmou a  promotora. Para ter um número exato era preciso, segundo ela, um  levantamento mais detalhado e apurado em todas as comarcas. Segundo  Izabel de Siqueira o objetivo das investigações é saber se as bandas  recebem realmente o valor estipulado nos contratos.
A promotora citou que o MP/RN  instaurou inquéritos as comarcas do MP/RN em Caicó, Macau, Guamaré, São  Miguel, Alto do Rodrigues e Parnamirim. No âmbito do MPF, existem  procedimentos abertos no caso de Riachuelo, Felipe Guerra, São Miguel,  Campo Grande, Jardim do Seridó, Assú (dois) e Caraúbas. Ainda não há  prazos para a conclusão dos inquéritos, nem no MP/RN, nem no MPF/RN.
Em outros estados do Nordeste,  a  contatação de bandas também está sendo investigada. Na Paraíba, há  pouco mais de um mês, o Ministério Público Estadual (MP/PB) denunciou  três prefeitos e 34 empresas, entre as quais algumas "fantasmas",  constituídas com a finalidade de desviar dinheiro público e fraudar  procedimentos de contratação de serviços para a realização de eventos  festivos (Ano Novo, São João e São Pedro, Carnaval e Carnaval fora de  época, aniversários de emancipação das cidades).
O esquema, revelado pela  Operação 'Pão e Circo", teria desviado dos cofres públicos algo em torno  de R$ 65 milhões. Os recursos desviados eram da arrecadação própria e  dos governos do Estado e Federal. As investigações apontaram a  participação direta de prefeitos, familiares e servidores públicos. 
Os maiores montantes de recursos  foram desviados nas prefeituras de Alhandra, Solânea e Sapé, municípios  que estão entre os piores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do  País. No último dia 09 de julho, o Diário da Justiça da Paraíba publicou  o teor da medida cautelar do desembargador Joás de Britto Pereira  Filho, determinando o afastamento dos prefeitos João Clemente Neto  (Sapé), Renato Mendes (Alhandra) e Francisco de Assis de Melo (Solânea),  denunciados na operação.
Uma das empresas, que funciona  numa casa alugada por R$ 80,00/mês, faturou nos últimos dois anos R$ 14  milhões em contratos fraudados, segundo investigações do Ministério  Público da Paraíba. Outra empresa chegou a faturar mais de R$ 3 milhões  em contratos.
MP pediu suspensão de festas no Estado
O MP/RN já havia baixado uma  recomendação onde sugere que os 139 municípios potiguares que se  encontram em situação de emergência não realizem as festas de São João  neste ano. De acordo com o MP-RN, os recursos públicos devem der  destinados prioritariamente para minimizar os efeitos da estiagem. 
Alguns dos 139 municípios que se  encontram em situação de emergência empregaram verbas públicas na  contratação de bandas e realização de festas, apesar da recomendação,  entre os quais Assu, São Miguel, Macau e Guamaré. Segundo a recomendação  dos órgãos, o gestor que porventura não acatasse a recomendação poderia  ser objeto de medida cautelar da Corte de Contas. 
Os órgãos de controle ainda  podem solicitar a sustação de atos, contratos e procedimentos  administrativos. Além de pedir a suspensão do recebimento de novos  recursos, sem prejuízo da aplicação de multa e também de outras sanções.  A exceção fica para o uso de verbas federais recebidas do Ministério da  Cultura ou do Ministério do Turismo, quando sua destinação estiver  especificamente vinculada à realização de festas ou eventos culturais no  município.
No RN, 13 municípios  cumpriram a  recomendação e cancelaram o São João devido à seca: coronel João  Pessoa, Francisco Dantas, Frutuoso Gomes, Itaú, Martins, Messias  Targino, Paraná, Pilões, Portalegre, Riacho da Cruz, Rodolfo Fernandes,  Severiano Melo e Venha Ver.
A recomendação, que teve  objetivo de prevenir que a situação nesses municípios se agrave e  garantir que o máximo dos recursos públicos sejam investidos para  minimizar os efeitos da estiagem, foi assinada conjuntamente com o  Ministério Público Eleitoral (MPE) e o Tribunal de Contas do Estado.
"Sem exceção, todo prefeito cujo  município está em situação de emergência e realizou festa sabe que será  investigado", afirmou a promotora Izabel de Siqueira Menezes,  coordenadora do Centro de Apoio às Promotorias do Patrimônio Público.  Segundo ela, a  recomendação cria o dolo. A medida priva as prefeituras  municipais de contratarem artistas, serviços de "buffets" e montagem de  estruturas para eventos, sob pena de adoção de providências cabíveis a  cargo de cada uma das instituições que subscrevem a recomendação.
"Se a prefeitura não acatou a  recomendação será investigada", reforçou a promotora Izabel Menezes. O  MP destacou ainda que nas práticas citadas que utilizam verbas federais  recebidas do Ministério da Cultura ou do Ministério do Turismo, com  destinação específica vinculada à realização de festas ou eventos  culturais, não se aplicam as orientações contidas na recomendação.
O decreto da governadora do  estado, de 11 de abril de 2012, declarou situação de emergência nos 139  municípios afetados por "desastres naturais relacionados com a intensa  redução das precipitações hídricas em decorrência da estiagem", pelo  prazo de 90 dias, prorrogável por igual período.
Inquéritos do MP/PB serão compartilhadas
As informações do inquérito que  resultou na Operação "Pão e Circo", na Paraíba, serão compartilhadas com  as unidades do MPE e MPF, no Rio Grande do Norte, Cerá e Pernambuco.  Segundo o procurador-geral de Justiça do MP/PB, Oswaldo Trigueiro do  Vale Filho, há indícios de que as mesmas irregularidades também ocorram  nesses três estados, onde algumas das empresas têm atuação. 
Segundo o procurador-geral, no  momento, o inquérito está em fase de documentação de todo o material  apreendido. "Em 20 ou, no máximo, 30 dias, estaremos compartilhando os  dados com as outras unidades do MP", afirmou, por telefone, à TRIBUNA DO  NORTE, Oswaldo  Trigueiro, que esteve ontem, em Natal, para abertura de  um curso de formação no MP/RN.
De acordo com o procurador-geral  de Justiça, Oswaldo Trigueiro do Valle Filho, o esquema era comandado  por empresários dentro das próprias prefeituras. O procurador-geral  disse que, especificamente, não tratou com o procurador Manoel Onofre  Neto, da Operação "Pão e Circo". A TN tentou falar com Onofre Neto,  durante toda a tarde, mas ele não atendeu às ligações feitas para o seu  celular. 
Ontem, o MPF/RN informou que  aguarda as informações do MP/PB para poder tomar as providências  necessárias. O interesse é cruzar informações das investigações que  estão sendo feitas no RN e às relacionadas à Operação "Pão e Circo" para  identificar se o mesmo esquema está presente nos municípios potiguares.  Este ano, vários municípios realizaram festas públicas, como Assu,  Macau, Guamaré e São Miguel. Em municípios como Guamaré, a festa  realizada para aniversário da cidade, neste ano, que teve a presença da  dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano custou R$ 450 mil, conforme  publicação no Diário Oficial do Município. 
Memória
A Operação "Pão e Circo" foi foi  deflagrada no dia 28 de junho, pelo Ministério Público da Paraíba  (MP/PB), em conjunto com Polícia Federal (PF) e a Controladoria Geral da  União (CGU) e desarticulou um esquema criminoso montado, segundo o  MP/PB, para fraudar licitações e desviar recursos públicos federais,  estaduais e municipais.
Foram cumpridos 28 mandados de  prisão temporária; 65 mandados de busca e apreensão; sete mandados de  condução coercitiva e ordens de sequestro de bens móveis e imóveis  expedidos pelo Tribunal de Justiça da Paraíba e Tribunal Regional  Federal da 5a Região. Na mira dos promotores e da PF estavam 13  prefeituras e 34 empresas promotoras de eventos.
Pela decisão do desembargador do  TJ/PB, Joás de Brito Pereira Filho as empresas investigadas estão  proibidas de manter qualquer tipo de atividade com as prefeituras  investigadas. A listagem das empresas foi publicada nas páginas 3 e 8,  do Diário da Justiça da Paraíba.   As empresas mantinham contrato com as  prefeituras de Alhandra, Cabedelo, Capim, Conde, Cuité de Mamanguape,  Jacaraú, Itapororoca, Santa Rita, Mulungu, Boa Ventura, Mamanguape, Sapé  e Solânea. As irregularidades também foram constatadas na Fundação  Cultural de João Pessoa (Funjope), órgão da prefeitura municipal.
As fraudes eram feitas em  licitações, dispensas e inexigibilidades de licitação, contratos com  bandas musicais, montagem de palcos, som, iluminação, comercialização de  fogos de artifício, shows pirotécnicos, aluguéis de banheiros químicos e  serviços de segurança. Dos 65 mandados de busca e apreensão, 13 foram  cumpridos na sede das prefeituras.
EXTRAIDO DO BLOG UMARIZAL NEWS 

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