domingo, 4 de agosto de 2013

Jovens correntistas com cartão de crédito na mão

"Quanto mais cedo os pais falarem sobre o assunto com os filhos, menos serão as chances de haver qualquer imprudência ou descontrole no futuro", diz Amanda. Foto: Maria Eduarda Bione/Esp.DP/D.A Press

Não se espante quando aquele seu sobrinho de 16 anos disser que já tem um cartão de crédito. Ou se a sua irmã, que acabou de completar 18 anos, falar que a conta bancária dela anda no vermelho. Ter o famoso “dinheiro de plástico” ou abrir uma conta não são mais exclusividades dos adultos. De acordo com uma pesquisa da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), mais de 40% dos jovens brasileiros entre 16 e 24 anos são correntistas, e 26% já fazem uso do conhecido cartão de crédito. Mas qual o impacto desse acesso cada vez mais precoce?

“Hoje, os jovens estão mais informados, o que contribui para uma inserção cada vez mais cedo no mercado de trabalho. Isso, naturalmente, provoca uma facilidade no acesso ao crédito”, explica o economista Christian Travassos, da Fecomércio-RJ. Segundo ele, além desses fatores, é preciso levar em consideração o padrão de consumo desse público específico. “A realidade está mudando nos últimos anos, e os bancos estão atentos a isso. Obviamente, quem tem 16 ou 17 anos não possui muitas garantias a oferecer na hora de abrir uma conta ou solicitar um cartão de crédito, mas isso não significa que eles não sejam um público em potencial”, ressalta.

Por isso, de acordo com o economista, a capacidade de crescimento da bancarização entre os mais novos é grande. Tanto que as instituições bancárias já perceberam isso. Hoje, todos os bancos que operam no país oferecem as chamadas contas universitárias, feitas especialmente para o público jovem. “Isso também contribui para o acesso desse público aos serviços bancários”, afirma Christian.

Para a professora de economia da Faculdade Boa Viagem (FBV) Amanda Aires, os dados refletem o desenvolvimento do sistema financeiro nacional. “À medida em que ele vai crescendo, é natural que o número de pessoas que têm acesso também aumente”, explica. Nesse sentido, a ampliação junto ao público mais jovem deve ser vista de maneira positiva, já que mostra uma democratização por parte do sistema financeiro.

No entanto, como muitos sabem, ter um cartão de crédito requer, acima de tudo, responsabilidade financeira. Se muitos adultos acabam se complicando com os altos juros e com o cheque especial, será que tanta facilidade pode prejudicar quem está iniciando a vida no mundo das finanças? Para Amanda, o problema não é o acesso em si, mas como os jovens utilizam as ferramentas. “Antes de tudo, é preciso que haja educação financeira. Quanto mais cedo os pais falarem sobre o assunto com os filhos, menos serão as chances de haver qualquer imprudência ou descontrole no futuro”, afirma.

Raiane usa o débito para controlar suas despesas. Foto: Arthur de Souza/DP/D.A Press
Raiane usa o débito para controlar suas despesas. Foto: Arthur de Souza/DP/D.A Press
De acordo com a pesquisa da Fecomércio-RJ, 31% dos jovens afirmaram que estão pagando algum tipo de parcelamento. Em 2008, o índice era de 26%. Para Christian, o uso do cartão deve ser feito de maneira consciente. “Há jovens que possuem mais disciplina do que muitos adultos. A idade não é fator preponderante nessa questão”, ressalta o economista. Ele ainda cita as matérias de educação financeira, presentes em algumas escolas. “Muitas estão iniciando o assunto com eles desde cedo, para que se tornem pessoas controladas”, afirma.

É o caso da recepcionista Raiane Souza, 19, que tem um cartão de débito. Ela conta que prefere essa opção pela facilidade de controlar as despesas. “Eu não gosto de fazer dívidas, nem de parcelar compras. Até tive a chance de optar pelo cartão de crédito, mas preferi o débito”, diz. Os gastos mensais da jovem são de aproximadamente R$ 600. “Coloco tudo no débito. Passeios, idas aos restaurante e outras despesas”. Tanta disciplina vem de casa. “Meu pai sempre me orientou com relação às finanças, e acho muito importante que os jovens tenham essa noção. Às vezes eu tenho vontade de comprar algo, mas como não posso parcelar, vejo primeiro se o produto vai caber no meu orçamento”, explica.

Já o estudante Wellington Luís, de 17 anos, não tem cartão, mas é titular de uma conta bancária. “Minha mãe foi comigo até o banco para abrirmos”, lembra. Ele conta que sempre acessa os serviços bancários pela internet, e que não pretende adquirir um cartão de crédito tão cedo. “Só se realmente for necessário”, finaliza.

fonte: diario de pernambuco

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