DEU NA TRIBUNA DO NORTE
"Uns com tantos e outros com tão pouco". O ditado popular retrata fielmente a realidade do Rio Grande do Norte, onde 258 mil (55,4%) das famílias vivem com uma renda de dois salários mínimos, 258 mil (24,2%) com um salário e outras 18 mil (1,7%) possuem um rendimento mensal superior a 20 salários mínimos. Esses dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2011), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o estado tem uma das maiores concentrações de renda do Nordeste.
Adriano AbreuMaria Socorro Silva: sobrevivendo em um contexto de desigualdades no mercado de trabalho e em renda
No quesito concentração de renda, a PNAD mostra que o RN vai na contramão do Brasil. No âmbito nacional, a desigualdade entre os mais ricos e mais pobres recuou. Isso porque o ganho dos 10% mais pobres cresceu 29,2% entre 2009 e 2011 enquanto a renda dos 10% mais ricos cresceu 4,43%.
"Nós ainda apresentamos uma grande concentração de renda e é preciso que isso mude. Os governantes devem investir mais em educação e emprego para diminuir essa desigualdade", explica o analista do IBGE/RN, Ivanilton Passos.
A pesquisa mostra que houve um significativo aumento nos domicílios com rendimentos mais baixos do Estado. Em 2011, foram registrados 211 mil domicílios com rendimento médio mensal de até um salário mínimo - cujo valor do rendimento médio mensal foi de R$393,00. Já na PNAD de 2001, foi registrado na mesma classe de rendimento (até um salário mínimo) 155 mil domicílios, cujo valor do rendimento médio mensal foi de R$ 136,00.
"No comparativo 2011/2001, tivemos um acréscimo de 36,12% no número de domicílios de (56 mil domicílios) e no valor do rendimento - em reais - ficamos com R$ 257,00", diz Ivanilton Passos.
Ele credita essa melhora na renda aos programas sociais criados pelo governo, mas alerta que é preciso investir também na educação para que a população possa continuar a melhorar de vida.
Outro dado positivo é que os potiguares apresentam a maior renda média mensal (R$1.034,00), entre os nordestinos.
Todavia, ainda existe uma significativa diferença entre o rendimento dos homens e das mulheres.
Segundo os dados da PNAD, os homens do RN tiveram um rendimento, em 2011, de R$ 1.088,00, contra R$ 951,00 das mulheres. Elas possuem um rendimento do trabalho que é cerca de 13% inferior ao rendimento masculino.
No RN, os setores da economia que concentram o maior número de pessoas são o funcionalismo público e a área de petróleo e gás. O IBGE não divulgou o percentual que esses setores representam, mas segundo Ivanilton Passos, esses dois setores são responsáveis por alavancar o rendimento médio mensal do Estado, principalmente nos municípios do interior, onde a maior parte da população vive da Administração Pública.
Taxa de desemprego no Estado é a maior do NE
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/2011), divulgada ontem, apontou que o grande problema do Rio Grande do Norte está na taxa de desocupação (desemprego), que chega a 9,6%, se destacando como a maior do Nordeste e a segunda mais elevada do país, perdendo apenas para a registrada no Amapá (12,9%).
Outro dado também relevante é que a desocupação atinge principalmente a população jovem. O maior percentual de desocupados (27%) está na faixa de 10 a 17 anos. Entre 18 e 24 anos a taxa é de 18,8%, entre aqueles que têm entre 25 e 49 anos apenas 7,9% estão desocupados. A menor taxa de desemprego esta entre aqueles com 50 anos ou mais (2,5%).
Outra diferença considerável é a taxa de desocupação entre homens e mulheres. No RN, enquanto a desocupação atinge 7,1% da População Economicamente Ativa masculina, entre as mulheres a taxa é de 13,1%. No Brasil e no Nordeste a desocupação é maior entre as pessoas do sexo feminino.
Em 2011, a População Economicamente Ativa (PEA) no RN era de 1,538 milhão de pessoas, das quais 1,391 milhão estava ocupada e outras 147 mil desocupadas, de acordo com o IBGE.
A população masculina era maioria entre a PEA (907 mil homens contra 632 mil mulheres) e na população ocupada (842 mil homens e 549 mil mulheres).
A taxa de atividade é maior entre os homens (67,94%) do que entre as mulheres (43,29%). Isso significa dizer que entre a população masculina com 10 anos ou mais de idade aproximadamente 68% está no mercado de trabalho, enquanto entre as mulheres esse percentual é de apenas 43%.
A auxiliar de serviços gerais, Maria Socorro Silva, faz parte desse grupo de mulheres que estão no mercado de trabalho e entre aquele percentual que possui uma renda familiar mensal de até dois salários mínimos. Na casa dela, na comunidade do Jacó, em Natal, moram quatro pessoas que juntas ganham algo em torno de R$1.800,00, já incluídos os trabalhos extras.
"Eu brinco que a gente aqui em casa não vive, sobrevive com esses salários que recebemos. E o que me deixa mais triste é que poucos ganham muito, enquanto a maioria recebe uma miséria de salário", disse Maria Socorro.
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