Filha do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), a ex-deputada federal Luciana Genro é o nome do PSOL para disputar a presidência da República, em substituição ao senador Randolfe Rodrigues, do Amapá, que abdicou da disputa presidencial. De passagem por Natal, participando de evento sobre a reforma agrária, Luciana abordou suas principais propostas, entre elas, taxar em 5% as maiores riquezas do Brasil, além de, também, explicar plataformas de campanha eleitoral polêmicas da sua candidatura, como a discriminação da maconha e o casamento gay.
Ao falar sobre ética na administração pública, Luciana disse que, infelizmente, “a corrupção se transformou em um método de governo”. “Não só pela corrupção miúda, que se vê, por exemplo, na construção de um aeroporto nas terras da família do Aécio, feito por ele mesmo quando governador, ou como a gente viu no mensalão, que foi também essa compra dos votos dos parlamentares. Essa corrupção que eu chamo de miúda, que também é extremamente grave, ela está ainda somada a uma corrupção quase institucionalizada, que é a captura dos partidos e dos políticos pelo poder econômico, que se traduz no financiamento das campanhas milionárias. O fato da Dilma ter um orçamento de campanha de R$ 290 milhões e receber, para fazer a sua campanha, dinheiro dos bancos, que lucraram no ano passado R$ 70 bilhões, das empreiteiras, que foram as grandes realizadoras das obras superfaturadas da Copa, isso é a corrupção mais institucionalizada e mais comprometedora da política, além de ser também a corrupção legal da dívida pública, que é outro caminho de desvio dos recursos públicos, quando o Brasil destina 40% de seu orçamento para pagamento de juros da dívida pública, que só beneficia as cinco mil famílias mais ricas do Brasil”, diz.
Em entrevistas a emissoras de rádio e TV, bem como a jornais impressos, a candidata do PSOL criticou seus principais adversários na disputa pelo Planalto. Para ela, a presidente Dilma Rousseff (PT) “representa um continuísmo conservador”. “É uma candidatura que está atrelada ao velho modo de fazer política do Sarney, do Collor, dos políticos que sempre governaram o Brasil e que representam as oligarquias mais apodrecidas que nós temos na história do Brasil”, diz. Já o Aécio Neves (PSDB), segundo diz, “é o tipo de político que constrói aeroporto na terra da família, tipicamente um político tradicional, que enxerga o dinheiro público como uma propriedade sua, que está a serviço dos seus interesses e da sua família”. Eduardo Campos (PSB), na sua ótica, é um híbrido entre os dois. “Ele está com o PSDB em alguns estados, como São Paulo e Minas Gerais, está com o PT no Rio de Janeiro. É uma mistura desse retrocesso simbolizado pelo Aécio, retrocesso ao neoliberalismo puro do PSDB, do Fernando Henrique, a privataria”, avalia.
Na visão da candidata do PSOL, a privatização da época de Fernando Henrique Cardoso levou a situações como a da baixa qualidade da telefonia brasileira, que, na sua visão, é uma situação caótica, com altíssimos preços e péssimos serviços. “Eduardo Campos é uma mistura do continuísmo conservador da Dilma, que é um social liberalismo, que é um modelo econômico muito semelhante ao do Fernando Henrique com algumas políticas sociais, que ao nosso ver devem ser mantidas, mas que não são suficientes para de fato acabar com esse abismo que existe entre os ricos e os pobres no Brasil, entre os que têm fortunas de R$ 50 milhões e os que são obrigados a viverem com o Bolsa Família, sendo considerados não mais miseráveis, porque têm uma renda de R$ 70 ao mês, o que não paga nem um jantar desses que vivem no topo da pirâmide”.
RIQUEZAS
Para promover uma verdadeira revolução no país, Luciana Genro defende o ataque aos interesses dos grandes milionários. Para tanto, propõe como principal proposta uma completa estruturação tributária do país, que vai possibilitar diminuir a carga tributária sobre o assalariado, sobre a classe média e sobre os trabalhadores de um modo geral para aumentar a carga sobre milionários, bancos e grandes empreiteiras. “Quem tiver fortunas acima de R$ 50 milhões – não é qualquer riquinho, é ricaço – pague esse imposto sobre as grandes fortunas numa alíquota de 5%, e com isso nós poderíamos arrecadar R$ 90 bilhões, o que possibilitaria sobrar os gastos com educação”, explica.
Ex-petista, ela critica a pauta dos candidatos adversários, afirmando ser a pauta da Confederação da Indústria (CNI). “Na verdade, é a pauta da CNI, que é a pauta de reduzir gastos sociais, de flexibilizar a legislação trabalhista, de diminuir os aumentos do salário mínimo, isso é o que eles querem, porque eles têm justamente o apoio desses segmentos, da indústria, dos grandes empresários, principalmente dos bancos e das empreiteiras, que são os que financiam as campanhas milionárias dos meus três principais adversários, Eduardo Campos junto com Marina, Aécio e Dilma”, diz. “A Dilma, por exemplo, tem um orçamento de campanha de R$ 290 milhões; de onde ela vai tirar esse dinheiro? Boa parte vem daí, da CNI, das grandes indústrias, e eles não dão dinheiro sem ter o compromisso que essa pauta que eles têm vai ser atendida. E a nossa proposta é justamente o contrário”, diz.
Liberação da maconha e casamento gay são destaques do PSOL
A regulamentação do uso recreativo da maconha e a institucionalização, pelo Estado, do casamento homoafetivo também são destaques do programa de governo de Luciana Genro. “O primeiro passo no desmantelamento dessa política de guerra às drogas é a descriminalização e a regulamentação do uso da maconha, que, a meu ver, e ao ver de vários estudiosos do tema, que inclusive se refletiu em um editorial do New York Times de ontem, um dos mais respeitados jornais do mundo, a maconha deve ser tratada nos mesmos patamares de outras drogas que hoje são legais, como é o caso do álcool e do cigarro, que são drogas que causam problemas também, mas que podem ser usadas de forma moderada, de forma recreativa, sem maiores consequências, desde que devidamente alertados a todos e regulamentando quem pode usar e de que forma pode usar, devem ser legalizados”, diz.
Luciana cita que no editorial o New York Times dá o exemplo da época da lei seca nos Estados Unidos, quando o álcool foi proibido, mas que isso não funcionou. “Ao contrário, as pessoas continuavam bebendo e se criou uma verdadeira máfia em torno da venda ilegal de álcool”. Para ela, é o que acontece com as drogas. “Nós temos verdadeiras máfias em torno do tráfico de drogas, quando a polícia prende um traficante tem imediatamente outro esperando para ocupar o lugar dele e o usuário da maconha, que é uma droga mais leve, que portanto, ao nosso ver, pode ser tratada nesses mesmos termos do álcool e do cigarro, ela acaba sendo jogada nas mãos do traficante, que vai oferecer a ele drogas muito mais perigosas e muito mais pesadas e lucrativas para o traficante, como é o caso do crack”.
Para Luciana Genro, a maconha aparece como a porta de entrada para outras drogas justamente por causa do traficante, que vai oferecer outras drogas e colocar em risco a saúde desse usuário. “Além do que, nós entendemos que é necessário que as pessoas possam decidir livremente pelo uso ou não de uma droga como essa, assim como podem decidir livremente pelo uso ou não do álcool e tem que ser alertada pelo perigo desse uso, se ele for feito de forma irresponsável”, afirma.
HOMO AFETIVOS
Sobre o casamento gay, a candidata diz que a proposta vem sendo bem recebida por amplas parcelas da população. “As marchas LGBT, que têm tomado conta do Brasil em várias capitais reúnem multidões que mostram que esse preconceito contra os homossexuais, as lésbicas, os travestis, os transgêneros já é um preconceito que vem sendo vencido por uma ampla parcela do povo, que entende que as pessoas têm o direito de amar quem elas desejarem amar e, portanto, casar com quem elas desejarem casar, elas têm o direito de ser quem elas sentem ser”, afirma, destacando que daqui a alguns anos o Brasil vai ver como algo absurdo que alguém ainda tenha preconceito por causa de uma orientação sexual. “E vejo também que é necessário se combater todas as formas de discriminação. Em relação à orientação sexual é uma delas, porque as convicções religiosas elas são muito importantes de serem respeitadas, mas nós vivemos em um estado laico, o que significa que as leis impostas pelo estado não podem estar submetidas a nenhuma orientação religiosa. Têm que estar assegurando os direitos de todos, inclusive dos que não têm religião”, diz.