Com as mortes registradas na madrugada deste sábado, o número de assassinatos subiu para 1004
Diego Hervani
diegohervani@gmail.com
Antes mesmo do final do sétimo mês do ano, o Rio Grande do Norte atingiu uma marca que mostra bem o atual momento da segurança que o Estado vive. Nessa sexta-feira (18), o RN registrou o seu homicídio de número 1000.
A milésima morte intencional aconteceu depois de uma perseguição policial que começou em Pirangi de Dentro, Parnamirim, e terminou em Taborda, São José de Mipibu. Os policiais abordaram um carro em que estavam os quatro suspeitos após uma denúncia anônima. Eles resistiram à prisão e abriram fogo contra os policiais. Durante o tiroteio, um dos supostos assaltantes morreu. Os outros foram presos logo em seguida. Contando com os crimes da madrugada deste sábado, o número de mortes intencionais subiu para 1004. Com isso o RN tem uma média de 5,04 assassinatos por dia.
Os municípios que lideram a lista de homicídios são os mesmos. Natal com seus 337 casos aparece em primeiro, sendo seguida por Mossoró com 98. Depois temos Parnamirim com 84, São Gonçalo do Amarante com 46, Macaíba com 35 e Ceará Mirim e São José de Mipibu com 33 casos em cada.
De acordo com dados de Ivênio Hermes, especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública e pesquisador nas áreas de Criminologia, Direitos Humanos, Direito e Ensino Policial, dessas mil mortes intencionais, 85% foram vítimas de arma de fogo, 8,3% de arma branca, 1,4% de algum tipo de ação contundente, que são objetos capazes de agir traumaticamente sobre o corpo humano, como pedras, paus, barras de ferro e taco de basebol. Em 2,2% dos casos as vítimas sofreram espancamento e na mesma proporção foram utilizados métodos diferenciados para causar a morte.
Em apenas 0,3% dos casos não houve qualquer meio de identificação do gênero da vítima, no restante, 93,1% dos homicídios foram contra homens e 6,6% contra mulheres. As vítimas abaixo de 15 anos totalizaram 1,8% das ocorrências e aquelas sem idade identificada chegaram a 6,6% dos casos. Foram 59,3% de pessoas pertencentes à faixa etária compreendida entre 15 e 29 anos, as acima dessa faixa 32,3%, ou seja, 61,1% pertenciam à população jovem do estado.
No Agreste Potiguar foram 7% de jovens menores de 29 anos de idade que perderam a vida de forma violenta intencional. Na Central Potiguar esse total chega a 5% e na Oeste outros 25%, ficando a maior parte das vítimas, 63% delas, para região mais perigosa do Rio Grande do Norte, o Leste Potiguar, justamente por abrigar a maior parte dos municípios pertencentes à Região Metropolitana de Natal.
“Desde 2011 que eu venho falando isso. O Governo não fez nenhum investimento parte investigativa e pericial da nossa polícia. Quando não se leva o criminoso para a justiça, ele é preso e solto. Ele volta a delinquir. Quando ele volta para as ruas, ele sente essa sensação de impunidade. Ele vem com mais força ainda e contra até as pessoas que representam autoridade”, destacou Ivênio Hermes.
Com a impunidade no RN, o Estado acaba se tornando um atrativo para criminosos de outras regiões. “Se um Estado vizinho nosso, como a Paraíba, por exemplo, está investindo em policiamento, eles percebem que lá a condição para cometer crime está complicada. Então eles migram para o Estado onde as facilidades são maiores, que é o nosso caso. Então nos tornamos um pólo atrativo para os criminoso”, frisou Ivênio, que ainda destacou a questão social como outro fator para o aumento da violência.
“Não existiu uma política pública nos últimos seis anos para colocar os jovens no primeiro emprego. Não houve aquela busca de retirar o deliquente juvenil da criminalidade e o colocasse em uma situação de que ele pudesse ter alguma recompensa. Com isso ele volta a delinquir. E o jovem que está fora do primeiro emprego, mas que sofre forte influência da criminalidade do bairro, ele vai entrar no mundo do crime, pois ele encontra facilidade de obter aquelas coisas que ele encontra todos os dias na mídia, que é a questão do consumo”.
Como solução imediata para tentar diminuir os números da violência, o especialista em segurança sugere operações “curtas” nos locais com maiores índices de criminalidade. “Esse estudo que eu faço, eu trago os locais onde as mortes acontecem, o tipo de crime entre outras coisas. Quando fazemos isso, criamos a mancha criminal. Então o que deveria ser feito é o Governo pegar efetivo do policiamento integrado, não pode ser só PM e nem somente Polícia Civil, e deslocar para aquela região onde está acontecendo mais crimes. Fazer operações curtas, não longas. Ir um dia na semana ou duas vezes e fazer a abordagem na região. Pois se tivermos uma operação longa, os criminosos, que se comunicam, deixam de ir para aquela região onde está tendo policiamento e partem para outras. Fazendo operações curtas, o Governo poderia juntar esforços e ir em cada bairro”.
Ivênio ainda lembrou da importância de se aumentar o efetivo do policiamento do Rio Grande do Norte. “Hoje o nosso efetivo policial não atende a demanda e nem mais a Lei de Responsabilidade que consta no programa Brasil Mais Seguro. É importante chamar as pessoas que foram aprovadas nos concursos para completar o quadro. É importante fazer outros concursos e também fazer o novo treinamento com o atual efetivo, pois os policiais precisam ficar mais preparados para o combate. Em várias operações, ou os policiais são baleados, ou o bandido morre, ou então o policial fica marcado pelos bandidos. É preciso treinar esse policial para tentar evitar o confronto”.
Por fim, o especialista em segurança criticou as viaturas que foram adquiridas recentemente pelo Governo do RN. “As viaturas são muito pequenas. O policial anda todo equipado, com armamento e colete, o que dificulta a saída dele das viaturas. Os policiais estão atirando de dentro das viaturas, já que demorar mais do que deveriam para sair dos carros. Isso acaba prejudicando o trabalho policial. As viaturas precisam ser maiores, com portas maiores que facilitem a saída do policial”.
fonte: jhrn
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