quarta-feira, 2 de julho de 2014

Menino que virou mulher consegue vitória inédita na Justiça do RN

Rochely Eleonar exibe nova certidão.
Rochely Eleonar exibe nova certidão.
Dormiu Eimar e acordou Rochely. A frase resume bem a história de Eimar Silva, que veio ao mundo perfeito como todas as crianças. Ainda pequeno, entretanto, percebia que o universo feminino exercia um fascínio sobre sua identidade de gênero. Aos 14 anos, cedeu aos desejos íntimos e, já feminilizado, passou a pintar as unhas. Lutou contra o preconceito na rua e na escola. Aos 16, abandonou a identidade masculina e se impôs Rochely Eleonora. Começava, então, uma luta de afirmação que teve o primeiro final feliz na tarde desta quarta-feira (2), no 4º Ofício de Notas, na zona Sul de Natal.
Delicada, mas decidida, Rochely Eleonora Silva de Barros agora não é só um nome social. Está escriturado por força de determinação judicial nos registros oficiais, com validade em todo o território nacioal. O menino Eimar cresceu e se tornou mulher.
O caso seria mais entre as recentes conquistas dos trangêneros não fosse por um detalhe: Rochely não fez – ainda – a cirurgia de mudança de sexo. É a primeira transexual no Rio Grande do Norte que consegue novo registro civil antes da intervenção de adequação sexual. A mudança foi possível graças à prática jurídica da Universidade Potiguar, que movimentou na Justiça todo o processo. Emocionada, a moça, que hoje tem 19 anos e está no primeiro semestre da faculdade de Direito (UnP), quer servir de exemplo.
“Que os demais transgêneros tenham a coragem de enfrentar essa luta. Isso representa hoje, enfim, conseguir uma identidade. Temos apenas uma identidade, e não duas. A luta é para se reconhecer isso. Somos apenas uma pessoa só”, disse orgulhosa, enquanto exibia sua nova certidão para flashes e objetivas de câmeras.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) lista atualmente a transexualidade com um distúrbio mental. Em 2015, entretanto, isso deve mudar. Pela nova proposta, os transexuais vão ganhar um capítulo próprio nas “condições relativas à sexualidade”. Para a OMS, transexualidade designa um indíviduo com identidade de gênero oposta a do nascimento, tendo desejo de viver e ser aceito como do sexo oposto.
“Eu comecei a perceber isso muito cedo em mim. Dentro de casa, a primeira reação foi de neutralidade. Depois de apoio”, conta Rochely, que enfrentou, por outro lado, resistência na rua e escola. “Os professores relutavam em me chamar pelo feminino”. Foi da escola, contudo, que partiu a orientação que mudou essa história.
“Orietaram-me a procurar um serviço de psicologia, e devo dizer que fui muito bem acolhida pela equipe de psicologia e urologia do Hospital Onofre Lopes”. Foi na unidade de saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que ela iniciou o tratamento de feminilização. Através do HUOL, Rochely fez castração química e toma hormônios para modificar o seu layout, que cada dia mais assume a configuração feminina.
A luta da moça agora é pela cirurgia que vai modificá-la para sempre. “É uma decisão irreversível.. Ela vai tentar o procedimento pelo SUS. Tem conciência das dificuldades que vai enfrentar – o tempo de espera pode chegar a nove anos – mas não esmorece. “Sei o que quero e vou conseguir”, brada com um sorriso de vitória no rosto maquiado.

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